quinta-feira, 20 de março de 2008

Alerta à cultura do desperdício

*O brasileiro tem uma cultura da fartura e adota o que denomina pedagogia do desperdício, contribuindo para índices alarmantes mostrados no livro Brasil - o país dos desperdícios.
Enquanto em países desenvolvidos os desperdícios com alimentos ficam entre 20% e 30% do Produto Interno Bruto (PIB), no Brasil chega-se a 150% do PIB; o desperdício de água tratada chega à casa dos 40%, enquanto nos países desenvolvidos fica abaixo dos 20%; cerca de um terço da energia distribuída no Brasil é mal utilizada e, no setor de construção civil, a perda alcança cerca de 25%.
Estes índices, os mais alarmantes no Brasil, comprovam a cultura do desperdício que grassa no País e estão no livro Brasil - o país dos desperdícios, de José Abrantes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo ele, o Brasil apresenta perdas em todos os níveis de produção. Num País em que 50 milhões de pessoas sofrem com a fome, o desperdício de comida, por exemplo, chega a 50% da produção nacional.
Boa parte das sobras geradas por restaurantes e lanchonetes poderia ser doada, mas a legislação é desmotivadora: a pena prevista para quem entregar matéria-prima ou mercadoria em condições impróprias para o consumo é de dois a cinco anos de detenção.
Sobre o desperdício de água tratada, dados de 2003 da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e do governo federal revelam que a perda de 40% do produto tratado e distribuído no Brasil representa prejuízo de um bilhão de dólares. Em algumas cidades, o desperdício doméstico de água pode chegar a 70%, sem falar na má utilização da indústria agrícola, pois as técnicas de irrigação ainda são, em sua maioria, obsoletas.
A perda de energia elétrica vem em terceiro lugar na escala dos recursos desperdiçados. Cerca de um terço da energia distribuída no Brasil é mal utilizada, segundo o Laboratório de Planejamento de Sistemas de Energia da Universidade Federal de Santa Catarina. Dados divulgados em 2005 por Eletrobrás, Procel e Operador Nacional do Sistema Elétrico indicavam que, em algumas empresas, o desperdício chega a 50%.
O professor ressalta ainda o problema no setor de construção civil, cuja perda alcança cerca de 25%. O preço final dos imóveis pode aumentar até 10%, em conseqüência da falta de planejamento e de interação entre o projeto de arquitetura e sua execução, uso de material de baixa qualidade e falta de pessoal qualificado.
A conscientização sobre a importância de se evitar perdas ajudaria a melhorar a vida de milhões de pessoas. O livro Brasil - o país dos desperdícios pode ser um bom começo.

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