terça-feira, 3 de maio de 2022

Filha de Glênio Sá lança documentário neste sábado (30) e coloca sob suspeita versão oficial sobre a morte do pai, vítima da ditadura


Líder comunista e único potiguar a lutar na mítica guerrilha do Araguaia, Glênio Sá morreu em 26 de julho de 1990 num acidente automobilístico ainda hoje cercado de mistério. A família nunca aceitou a versão oficial de que aquela tragédia teria sido obra do acaso. Há muitas razões para uma dúvida dolorida que permanece sem resposta há mais de 30 anos.

Os arquivos do Exército Brasileiro abertos por força da Comissão da Verdade, por exemplo, revelaram que Glênio foi monitorado pelos militares por pelo menos uma década após a lei da anistia, assinada pelo ditador João Batista Figueiredo em 1979. Alguns meses após a morte do comunista, na véspera do lançamento de um livro-testemunho deixado por ele sobre a experiência no Araguaia, um estranho arrombamento mexeu com a família: só documentos e fotografias foram levados. Nem dinheiro ou objetos de valor despertaram a atenção dos assaltantes.Há outros motivos que perturbam ainda hoje as mentes de Fátima, Gilson e Jana Sá, esposa e filhos do guerrilheiro. Todas as peças deste quebra-cabeça foram reunidas no documentário “Não foi acidente, mataram meu pai”, dirigido pela caçula de Glênio, hoje jornalista e pesquisadora que há mais de três décadas se debruça sobre a história do pai.

O filme estreia neste sábado (30), em única sessão, a partir das 19h, na Casa da Ribeira. Os ingressos estão esgotados. Após a exibição haverá um debate com a diretora Jana Sá e o cientista social Willington Germano, membro da Comissão da Verdade instalada na UFRN.

“Não foi acidente, mataram meu pai” foi selecionado no edital de Fomento à Cultura da Fundação José Augusto.

Memória

A data do lançamento não foi escolhida por acaso. Se estivesse vivo, Glênio Sá completaria neste sábado 72 anos de idade. A obra de Jana que contou com a participação do irmão Gilson e da neta do comunista, a estudante de Psicologia da UFRN Ana Beatriz Sá, é um convite à celebração da memória do guerrilheiro natural de Caraúbas, mas sobretudo um pedido para que o Brasil não vire as costas nem varra para debaixo de tapete seu passado, por mais sombrio e cruel que tenha sido.

Na época da tragédia, Jana Sá tinha apenas 6 anos de idade. Ela perdeu a memória que tinha do pai no período anterior ao desastre automobilístico e, após o assalto à casa da família, só conseguiu reaver uma fotografia ao lado de Glênio em que ele aparece com parte do corpo cortado. Para a jornalista e diretora do documentário, o momento é de reflexão:

“Uma data emblemática, o dia do aniversário do meu pai, Glênio Sá. Se estivesse vivo completaria 72 anos. Além disso, é um mês para lembrar a instauração da ditadura militar, em 1º de abril de 1964, e os 52 anos da Guerrilha do Araguaia. Uma forma de combater o esquecimento para que o nunca mais seja uma realidade possível”.

Jana Sá, diretora do documentário “Não foi acidente, mataram meu pai”. 

Democracia

Com dados e fatos essenciais para a reflexão sobre o desenvolvimento do sistema democrático, o documentário debate o que representou o regime militar (1964-1985) e a sua continuidade até os dias de hoje ao mergulhar na investigação sobre as motivações e circunstâncias da morte de Glênio Sá.

O documentário é um longa-metragem, filmado em full HD, com 50 minutos de duração e foi rodado nos municípios potiguares de Coronel Ezequiel, Jaçanã e Natal, e nas cidades de São Geraldo do Araguaia (Pará), São Paulo (SP) e Jaboatão (PE). Depoimentos de diferentes atores, entre familiares, camponeses envolvidos no episódio histórico da Guerrilha do Araguaia e militantes políticos traçam a trajetória política do potiguar Glênio Sá.


Bispo de Caicó critica atos contra o STF: “Isso não faz parte do jogo democrático”

O bispo da Diocese de Caicó, Dom Antônio Carlos Cruz, condenou nesta segunda-feira (2) manifestantes que têm promovido ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e pedindo a volta da ditadura. Em entrevista ao blog de Marcos Dantas, o bispo disse que atacar o STF “não faz parte do jogo democrático”. Ele não citou diretamente o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores, que fizeram atos por todo o País neste domingo (1º) contra a Suprema Corte.“Temos escutado nos últimos anos determinadas lideranças nacionais várias vezes repetirem o discurso, como se falar de ditadura pudesse ser falado. A democracia não é anarquia. Anarquia é ausência de poder. Democracia permite que todos participem, mas há um limite. Por exemplo: dentro do jogo democrático, não se pode fazer discurso antidemocrático”, enfatizou o bispo.O bispo Antônio Carlos Cruz salientou que “não são todas as bandeiras que podem ser defendidas numa democracia”.

“Por exemplo: se alguém dissesse ‘eu acho que eu posso matar todo mundo’… Esse é um tipo de discurso que não comporta na democracia. Há princípios. Ficamos assustados vendo cada vez mais grupos (fazendo manifestações antidemocráticas). Isso não faz parte do jogo democrático. E foi uma luta brasileira. A democracia é algo muito recente e frágil. Precisamos defender um valor fundamental. Já passamos por momentos tão dolorosos. Não podemos nos dar ao luxo de arriscar a quebra do estado democrático de direito”, finalizou.

98 FM