domingo, 30 de novembro de 2008

Qualidade de vida

O modelo desenvolvimentista do nosso País repercute muito pouco no social. Concentra a renda, vê o campo como oportunidade secundária, assiste complacente ao êxodo rural e à favelização dos centros urbanos, enseja um aumento avassalador de violência. Na verdade, penaliza o cidadão, a cidadania e a qualidade de vida, na medida em que reduz as chances gerais.
Do governo, se espera sensibilidade e vontade política. Da sociedade civil, consciência em torno da problemática, sair de uma prática reivindicatória tradicional, clientelista e piegas, sem conseqüências, para uma ação mais efetiva, misto de pressão e ajuda de soluções.
Como? A base da evolução das sociedades é a participação. É associação, informação, é chegar junto pela imaginação e pelo sentimento.
O associativismo é assim. Consciência, objetivos comuns, mobilização, somação de esforços. Organização, respeito, multiplicação de forças, conquistas, a cooperação fazendo acontecer.
Mas para que haja adesão, haverá de permear entre os circunstantes confiança e objetivos finais conhecidos e coincidentes. É o efeito grupal, se sentir integrante e a palavra chave que energiza e define, envolvimento.Resta o sentimento.
O sentimento é uma das virtudes mais sensacionais da criatura humana. Responde pelo entusiasmo, emoção, pesar, amor, afeto, desgosto e disposição afetiva com relação a moral e ao lado intelectual.
A integração pelo sentimento é sublime racionalidade. No Pequeno Príncipe, Exupéry disse: “Os homens compram tudo prontinho nas lojas. Como não existem lojas de amigos, o homem não tem mais amigos.”
Felizmente não chegamos a tanto, contudo, concordamos que vivenciamos uma crise nos relacionamentos interpessoais. Amizade como virtude é prática que claudica. Somos mais “conhecidos” que “amigos”. Penso que tudo seja influenciado pelo mundo extremamente competitivo dos dias atuais.
São conceitos verdadeiros. Com coragem “a primeira qualidade do homem e que garante todas as outras” segundo Aristóteles, harmonizem ações e as palavras participação, associativismo, envolvimento, adesão, integração, sentimento e amizade, o justo caminho da cooperação, do ganho coletivo.

Por: Prof. Roberto Sérgio

O Big Brother Brasil e o Sexo dos Anjos

Toda situação de laboratório é arterial, mas, quando científico deve ter o rigor no controle das suas variáveis para evitar, ao máximo, interferência nos seus resultados. Ou seja, se busca a utópica e perseguida neutralidade dita axiológica. O Big Brohter não deixa de ser um laboratório humano, porém triplamente artificial pela própria condição de laboratório; pelos participantes, enquanto “objetos”, que passam por um processo seletivo cujos critérios estão de acordo com a conveniência do que a emissora julga necessário para o momento; e, durante o tempo de confinamento no programa, esses indivíduos são manipulados com a finalidade de atingir um objetivo pré-estabelecido: alcançar os mais elevados índices de audiência. Esta, por sua vez, é traduzida em lucros para fazer valer o investimento. Isto é, a parcialidade não é total porque tem a interatividade do telespectador.
“O espetáculo é um arremedo de realidade, mas de tal forma convincente que a realidade tem que rivalizar com ele se quiser ser reconhecido como tal – realidade” (BAUMAN, 2000, p. 74).
Bauman (2000, p.110) diz que “a TV é guiada por índices de audiência e velocidade, mas a rapidez e a audiência de massa são inimigas do pensamento”. Esta afirmativa vem a calhar com as variadas formas de entretenimento da televisão, inclusive o Big Brohter Brasil. Nesta sua oitava edição, para assegurar audiência, a articulação se tornou ainda mais atuante do que nas anteriores. A implantação do big telefone, de voz planetária, soa a qualquer hora para dá uma boa notícia ou uma sentença de Paredão, não livrando nem que quem o atende. Desse modo, tem-se agora um Paredão triplo com os habituais condenados indicados pelo líder e pela “casa”. Assim intensifica a tensão, uma vez que eliminação é o fator mais preocupante que preenche de alarido aquele cenário. O Anjo também mudou, não é mais somente o mensageiro da paz e do amor, adquiriu feições humanas: pode enviar um brother para o paraíso e outro para o inferno. Flaubert deve ser avisado, “anjo” só não “fica bem em amor e em literatura”, mas em Big Brothertambém. Enfim, a produção está com mais poder para aditivar a audiência.
Na ótica de Duarte (2004), o indivíduo pós-moderno não é uma pessoa consciente, livre e autônoma, mas uma existência anônima. Assim sendo, há uma necessidade de reconhecimento das pessoas, cuja ausência, segundo Heidegger (apud OLIVEIRA, 2006), seria equivalente à morte. Ou seja, “a invisibilidade é insuportável, quiçá pior, porque é um existir sem ser visto” (OLIVEIRA, 2006, p.19). Daí o desespero para aparecer diante das câmeras, uma vez que, como diz Berkeley (apud BAUMAN, 2000, p.110), “ser é ser visto na TV”.
Para alimentar a ilusão, e atiçar a curiosidade, a inscrição do BBB é aberta ao público em geral, mas os escolhidos, quase sempre, já têm, pelos menos, “a pontinha do pé” no meio artístico, e espera-se que em cada edição surta alguma revelação. O Big seria a ante-sala ou uma espécie de estufa para adubar possíveis brotos de talentos, mas que raramente vingam. Afinal, se investe nas cascas vistosas e não na qualidade das sementes. Os participantes querem a chance da visibilidade, mas para mostrarem o quê? A maioria tem apenas o corpo escultural que aperfeiçoa ainda mais na infinita ociosidade na “casa”. Com tantas caras de pau para não demonstrar jeito nem para figuração, assim sendo, independente de qualquer outro ganho, esta exposição, por si só, já se constitui um prêmio. São celebridades nacionais instantâneas, e que vão perdurar enquanto famosos nas suas localidades de origem. Como diz Boorstin (apud BAUMAN, 2007, p.68), “celebridade é alguém conhecido por sua característica de ser bem conhecido”.
Toda casa, por mais simples que seja, tem uma estante com meia dúzia de livros, ou um cesto num canto com algumas revistas. Na verdade, a “casa” Big é uma forjada academia de ginástica, sem nenhum estímulo à leitura. Mas, não é de estranhar, pois, mesmo em programa infantil, quando esse instrumento do saber aparece é desviado da sua função, a exemplo da Xuxa Meneghel que se apresenta sentada numa pilha de livros virtuais. Na estilizada casa/academia há espelhos espalhados por todos os cômodos, o que permite que seus moradores sejam, é claro, observados as vinte quatro horas do dia. Mas isto também atende a uma outra necessidade, a de que os brothers se exibam e se excitem com a própria imagem neste templo de culto ao físico. Ou seja, “a tela da televisão se tornou hoje uma espécie de espelho de Narciso, um lugar de exibição narcísica” (BOURDIEU, 1997, p.17), o protótipo da “era do vazio” (LIPOVETSKY, 2005). Muitos não desfilam neste espaço sem que não façam, diuturnamente, a sua “oração”, isto é, que não deixem de dá uma ajeitada no visual ou conferida de que todos os milímetros estão no lugar.
O Big Brother Brasil nem se quer trocou a expressão em inglês, dessa idéia que nasceu na Holanda, em 1999, por meio dos sócios produtores de TV Joop Van Den Ende e John De Mol1 - daí a empresa Endemol que retém os direitos autorais -, inspirados no projeto americano Biosfera 2 (uma abortada tentativa de reproduzir uma miniatura do planeta terra), e que vários países compraram. Os vizinhos argentinos chamaram os habitantes da sua “casa”, mais modesta do que a carioca, de Los Hermanos. Como seria um título em português: Os Anjinhos do Pau Oco? Os Hipócritas? Os Mascarados? Interessante é que muitas das marmotas que ficam fora do páreo “seletivo” parecem mais engraçadas do que as contempladas. Entre rostos e corpos que não dizem nada, preferível alguma verve para o escracho. Estes, porém, de alguma forma, também têm sua vez. Para deleite do público são incluídas em outros programas do próprio canal ou segmentos fechados da emissora, etc. Logo, se os excluídos não vivenciam uma apoteose ou overdose de exposição, no entanto, alguns terminam confirmando a profecia do americano Andy Warhol, dos quinze minutos de fama.
Num dos programas passados estenderam a chance de duas vagas para quem quisesse ariscar a sorte pelo telefone. Uma sortuda além de fugir totalmente do padrão da “casa”: jovem, bonita, sarada, glúteos arrebitados, seios turbinados, passou mal e teve de ser substituída por outra sorteada, também, via telefone, por coincidência um pouco melhorada. Considerando que a sorte, às vezes distraída, sorri para feio/a, velho/a, gordo/a ou obeso/a, etc. Esta inovação foi fiasco porque não tinham o menor controle de quais tipos de figuras entrariam na “casa” fossem “monstros” ou beldades. Para evitar o choque do real com a nave platinada, a entrada de possíveis moradores indesejáveis, gente simples sem currículo de academia ou de salas de cirurgia, foi brecada. Uma vez que, lá dentro não poderia ser desapropriada, essa segunda porta de acesso à “casa” foi, definitivamente, bloqueada.
Para fazerem jus ao justo princípio bíblico de ganhar o sustento com o suor dos próprios rostos lindos e corpos maravilhosos, os moradores são obrigados a batalhar pela comida. Não podia ser de outra forma que não do seu exaltado potencial: o físico. Esta batalha, geralmente se dá em atividades, as quais instigam correr e escorregar em alguma substância colorida, viscosa que possa precipitar algum lance de partes mais íntimas, para que, depois de bem untados, ressaltem as formas. Mas há também momentos perversos, por vezes, a “feira” não é suficiente ou é apenas básica. Assim, ao passo que um grupo, em razão da sorte ou esforço de ter ganhado extra em alguma competição, saboreia delícias que chegam de fora, o outro grupo fica humilhado diante dessa visão de fartura do bem bom. Mas, nunca a tal ponto de que não tenha o que comer como é, ainda, a realidade de boa parte da base piramidal da sociedade brasileira.
Em relação aos afetos masculinos sugere uma evolução, os homens se permitem aos abraços e beijos de cumprimentos, e, em quase todos os programas tem os que fazem pactos de fidelidade, parece que até de sangue já foi feito. Estabelecem vínculos tão instantâneos com promessa de uma amizade profunda e eterna, e se tratam melhor do que bons irmãos. Entre as mulheres, tidas como mais afetivas, embora se toquem e se abracem mais do que os homens, não celebram declarações de que sejam amigas para sempre. Por que os brothers fincam esses pactos carregados de tanta emoção? Talvez pelo fato de que os homens têm dificuldade de lidar com situações de vulnerabilidade, e por isto buscam apoio fraternal, paternal nos seus pares. Mas, não deixa de ser curioso esse intimismo e cumplicidade em exemplares de um país preconceituoso e tipicamente machista.
As provas para líder, salvo engano, são de resistência, e as de anjo são por sorteio ou outra qualquer atividade, mas ambos, geralmente, de tão criativas deixam qualquer criança jardim de infância blasé. Quando tentam passar alguma mensagem, esparramam no alvo. Neste BBB-8 dois confinados travestidos de mosquitos da dengue (aedes aegypti) tinham a tarefa de retirar água das garrafas, pneus e colocar areia nas plantinhas, enquanto isto os demais moradores da “casa”, sem fazerem nada, ficavam às gargalhadas. Quando é que o mosquito destrói as condições idéias para sua proliferação, contribuindo, assim, para o seu próprio extermínio? Seriam mosquitos suicidas? Somente uma mente “brilhante” para concretizar a idéia de um desses desserviços.
Mas, neste laboratório, é interessante observar, como ou até quando os confinados mantêm a dignidade, a ética, a franqueza e a solidariedade. Os conchavos que fazem e como estabelecem as afinidades. Já que à solidão do vazio é a sua constante, com todos ou boa parte dos integrantes presentes na “casa”, mesmo que tentem preencher com visitas de celebres, festas, etc. As eliminações apenas concretizam ou deixam mais evidente o que já existe: o deserto humano. Embora já tenha tido finalista com conteúdo, mais isto faz parte da exceção à regra, o que predomina são os “vasilhames” para “ouro”, “prata” e “bronze”.
No dia a dia da “casa”, as paixões (amor, ódio, raiva) se dimensionam ou se potencializam, e chegam ao seu limiar de tolerância, de alterado estado emocional, nos dias que antecedem Confessionário e Paredão. Assim, uma boa dose de emoção real e muito de histerismo, para se mostrarem, é a tônica nas noites de paredão. Os sentimentos com a saída do parceiro/a são sempre ambivalentes, por um lado, a felicidade e o alívio por não ter estado no paredão ou por ter se livrado dele, e, por outro lado, o pesar pela morte simbólica do eliminado/a. Além da saudade remetida pela visão das famílias, amigos, etc., dos emparedados. Estes, em especial, regridem e, assim, choram compulsivamente o desespero de crianças perdidas quando reencontram seus pais. O Big mobiliza emoções, e é curioso como sua característica de jogo
é negada o tempo todo. Os integrantes sofrem por esquecerem que estão num divertimento no qual não investiram quase nada. Somente se perde o que se tem. Mas eles entram nesse passatempo, praticamente, apenas com o corpo e a cara. Portanto não há nada a perder além de expectativas, porque já devem se considerar vencedores pelo recorde das horas de fama, mesmo que, logo após, se transformem em estrelas cadentes. Afinal, “não há nada tão transitório como o entretenimento e a beleza física, e os ídolos que os simbolizam são igualmente efêmeros” (KLIMA apud BAUMAN, 2003, p.65).
Embora nem sempre traga visibilidade, os jogos de loteria, etc., com base em uma quantia irrisória, também visam o ganho fácil, mas ninguém condena. A diferença, é que os brothers, atrevidos, têm a ambição de ficarem ricos e famosos. A questão não é o Big Brother enquanto entretenimento, mas a pecha de usarem unicamente como passaporte o físico, em cabeças de maioria obtusa. Embora para Freud (apud RORTY, 2007, p.77), “ninguém é inteiramente obtuso, pois não existe inconsciente obtuso”. Mas, num país tão carente de cultura o Big é mais um programa que, com tantos recursos investidos são consegue passar algo mais instrutivo.
As verborréias circulantes abundam o dia-a-dia na “casa”. Muitos dos confinados falam errado, são desprovidos de escolaridade elementar. A parte os momentos específicos de tensão, afetação e emoções, somente uma paciência de monge budista para ouvir tantas abobrinhas, falação2 ou merda. Frankfurt (2005) questiona o falador de merda se, pela própria natureza, ele seria idiota desmiolado? Ou, seria seu produto necessariamente sujo ou grosseiro? Enfim, “a palavra merda com certeza sugere isso. O excremento não é de modo algum projetado ou elaborado; é apenas emitido ou descarregado” (FRANKFURT, 2005, p.27 - grifo do autor). Com exceção das famílias dos confinados, o que é perfeitamente justificável, fica difícil de entender como alguém assina o pay-per-view? Ou seja, como um cidadão consegue suportá-lo além do seu tempo estrito de exibição?
Como são notórias, as emoções no Big Brother são exacerbadas, porém o desejo sexual cada vez mais, a cada programa é mais enfraquecido. Parece até que, em virtude do narcisismo se satisfazem plenamente com o prazer da própria imagem. As mulheres, apesar de exibidas e desinibidas, se mostram nesse quesito mais contidas, deixam transparecer que a falta de sexo não as deixam ansiosas. Isto é, reforçam a idéia de que homem não pode ficar sem sexo, coisa que elas tiram de letra, ou melhor, no samba, rock, funck, etc. No cerimonial hollywoodiano de estréia da “casa”, por várias vezes, as primeiras falações na mesa giram em torno das confissões das sisters de terem ou não silicone nos seios. Esquisita esta necessidade de revelar esse detalhe, como se de tão embutido não fosse imperceptível a “olho nu”. As mulheres reclamam quando são tratadas como objetos sexuais, mas não perdem a chance de colocar em avaliação os seus dotes naturais ou adquiridos.
No Big atual, num rompante de “estrema criatividade” jamais visto, as garotas puseram espuma de barbear nos seios desnudos para encenaram uma coreografia bem pebinha, com a intenção sensual de provocar os rapazes que estavam na piscina. Eles apenas olharam e se entre olharam meio marotos. Para que desperdiçar tal “dom artístico” se é uma “casa” assexuada? Eles parecem cordiais demais, e não os legítimos latinos conhecidos por seu suposto aflorado apetite sexual. Se ocorresse uma transa, debaixo do edredrom, é claro, que mal teria isto? Imoral é a corrupção, a fome, criança pedindo esmola, gente morrendo na guerra ou por bala perdida, etc., e não a manifestação do “amor” e/ou tesão. Não se trata, aqui, de algum desejo voyeurista de bacanal no Big Brother, o que se questiona é essa postura puritana que contradiz o vigente comportamento sexual descompromissado.
Hoje, garotas de treze, quatorze anos dormem com o namorado na “casa” dos próprios pais, e todo mundo sabe, se tornou uma praxe, em alguns casos, ninguém nem estranha se também houver rotatividade. Nas festas ou, como os paulistanos gostam de dizer com a boca “cheia de língua”: ba...la...das, os adolescentes beijam quem estiver a fim ou a quem tiver oportunidade. Fazem questão da quantidade para, depois, contabilizar o número de beijo. Certamente quem ostentar esse “troféu”, por questões obvias, é a boca mais rica, ou seja, em média com “250 bactérias”(FRANÇA, 2001). Muitos jovens, mesmo com os desconhecidos/as destas noitadas, não apenas “ficam” nos beijos e amassos, mas vão até vias ditas de fato.
No penúltimo programa uma participante, metida à ingênua, sempre encobria a boca com a mão quando beijava o namorado. Ou seja, no geral, nestes realitys shows brasileiros, em termos de sexualidade é um convento, a libido parece sempre está enclausurada, cujas sisters são todas noviças comprometidas com Deus. Neste big, os brothers, mais “inocentes” do que bezerros desmamados, depois de tantas pelejam, quando conseguem um “beijo francês”, a torcida vibra em gol. Como se tivessem rompido os grilhões da castidade. Para Lukacs (2005, p.204), “a hipocrisia se evidencia na diferença entre o que as pessoas dizem e o que fazem, ou entre o que pensam e o que dizem”. Porém, como toda esta pureza as moçoilas não deixam de dançar de modo provocativo. Aliás, depois da “boquinha da garrafa”, quase toda dança brasileira mais do que sensual, passou a ser sexual, e coreógrafa movimentos de cópula das mais violentas. A sexualidade nesse confinamento, ou melhor, a não existência da mesma, contradiz estudo mundial que aponta o brasileiro no topo do ranking das populações que mais transam (CARVALHO, 2006). Se esta conduta sexual dos brothers, de fato, fosse natural o futuro populacional do Brasil estaria ameaçado. Como diz Frankfurt (2007), toda sociedade deve ter um mínimo de apreço pela utilidade infindavelmente multiforme da verdade. Este recato não corresponde à verdade, até porque são pessoas adultas, geralmente viajadas, e sob forte estímulo sexual do contexto.
Segundo Pontes (apud OLIVEIRA, 2006), há uma associação feita pelos portugueses - certamente pelo estrangeiro em geral (acréscimo e grifo nosso)- entre as mulheres brasileiras e o sexo. Nessa perspectiva, os jogadores de futebol e sua malandragem junto às mulheres bonitas, espontâneas, exibidas e liberadas sexualmente formam o par estrutural a partir do qual são representados os brasileiros. Porém, as mulheres são representadas de maneira mais pejorativa, como prostitutas, uma vez que carregam o estigma do sexo e da malandragem (OLIVEIRA, 2006, p.18).
Em relação à mulher, apesar do excesso que forma o lastro no qual empiricamente sedimenta o estereótipo, este se deve ao grande número de brasileiras que sobrevivem da prostituição na Europa, em particular na Espanha e na Suíça. Porém, o estrangeiro que assistir ao Big Brother Brasil, vai ficar confuso, o país da sensualidade, dos requebros, cujas mulheres são usadas como chamariz para atraí-los, são travadas? Possivelmente os gringos não vão mais querer enfrentar a violência, perigo de assalto, a não ser que se contentem com duas pernas do tripé: droga e rock`n`roll. As próprias famílias devem estranhar porque sabem que suas filhas não são “santas”, a não ser que tenham compactuado com a hipócrita construção da sua imagem casta.
Programas como o Big Brother, segundo Bauman (2004, p.110), insistem “em afirmar que este é um mundo duro, feito para pessoas duras: um mundo de indivíduos relegados a se basearem unicamente em seus próprios ardis, tentando ultrapassar e superar uns aos outros”. Mas esta, infelizmente, sem remorso é a prática mais comum e ativa no cotidiano da maioria das instituições, porém nem sempre visível. Talvez, diferente de outros telespectadores, o caráter superficial e oscilante do brasileiro, não tolere sobrecarga de realismo, ele quer ver no vídeo ficção, o Big Brother como um quadro de humor ou cópia de novela. Prova disto é que nenhum brohter que se mostre competitivo, sem escrúpulo, etc., como é, de fato, boa parte dos sujeitos na vida real, não tem à colhida da audiência.
Nos primeiros destes circos eletrônicos sem palhaço - para ser palhaço não é apenas se caracterizar - o prêmio era menor e os “guerreiros” eram mais competitivos e agressivos, hoje o prêmio engordou e eles procuram ser mais estratégicos. Aprenderam que a autenticidade, ou seja, que a verdade consigo mesmo que se baseia na ausência de contradição (HESSEN, 2003), no Big Brother não funciona. Para Frankfurt (2007, p.43), “precisamos da verdade não só para entender como viver bem, mas para saber como sobreviver”, esta sinceridade não tem guarida nesse picadeiro de operações, no qual o autêntico não se garante, logo é colocado no Paredão e o público “fuzila”. Enfim, parece que o brasileiro não aceita show comprometido em respaldar ou reprisar a sua realidade, ou seja, ele quer diversão pura, fantasia, inconsciência para fugir das suas verdades. Nesse sentido, Suely Rolnik, de modo perspicaz, descreve:
O enredo da mais prestigiadas das telenovelas, que acontece todas os dias às oito da noite na Globo, é uma cartografia bastante fiel dos movimentos políticos, econômicos, sociais, comportamentais que convulsionam o cotidiano da vida coletiva, mas para reinjetar uma promessa de transcendência apaziguadora. É como se todos passassem o dia desesperando-se com as turbulências para acalmar-se à noite, quando a novela coloca em cena estas experiências desestabilizadoras, porém anestesiando o desconforto, domesticando o estranhamento, apagando seu fogo problematizador, fazendo com que tudo pareça voltar ao mesmo (ROLNIK, 2001, pp.21-2).
Como destaca Bourdieu (1997), com bons sentimentos faz-se índice de audiência. A moral dos moradores platinados se confunde e/ou está de acordo como a audiência. Se aceita seios revoltos saltando dos sutiãs, displicência de biquínis, shorts ou sungas mostrando um pouco mais do que seus “cofrinhos”, mas namorar!? Somente similar ao pudico ano 60. Segundo Touraine (2007), a televisão de hoje nos mostra a realidade nua e crua: corpo que sangra, armas que disparam, o amor que se faz. Os dois primeiros itens é o trivial da paisagem urbana brasileira, mas o terceiro? No Big Brother Brasil, nem debaixo dos edredons. Para Lukacs (2005, p.204),“a hipocrisia talvez seja o vício espiritual preponderante das civilizações maduras”. Diria que das sociedades hipócritas e amorais. Por que a reputação de uma sister ficaria comprometida por causa de sua transa com o brother com oqual está envolvida?
Neste país de duas ou mais caras, por falta de permissividade não é, o apresentador, nas suas “aparições” na “casa”, não deixa de estimular: “Façam alguma ´coisa`”, “Agitem”, até insiste em lembrar que têm “camisinhas” na dispensa. Porém, ninguém avisou para o apresentador, e companhia que brohters brasileiros, iguais aos anjos, não têm sexo. Quem sabe daqui a dez anos quando o programa atingir a maioridade? Ou telespectador acredita que veio ao mundo apenas por obra e graça do espírito santo, anunciado por algum anjo de plantão!? O valor da pessoa não está na sua prática sexual. É paradoxal que o homem tido pós-moderno não lide com a sexualidade de modo natural, sem culpa, o que não significa vivenciá-la na vulgaridade ou promiscuidade.
A televisão, este aparelho eletro-eletrônico não é apenas uma janela para o quintal de casa, mas para o mundo, por meio da qual se têm feedbacks. O problema é que subestima a capacidade do telespectador oferecendo-lhe o que há de mais rasteiro. Os “intelectuais” não assistem o Big Brother, simplesmente o consideram fútil, e preferem jogá-lo no lixo. No entanto, o futebol é fútil, que de objetivo não acrescenta nada, mas é a paixão nacional, e todos aceitam. Mas por que o Big Brother sobrevive? Qual o seu fetiche3? Antes de qualquer fixação por corpos malhados, desejo de monitorar ou vasculhar a intimidade alheia, tem a sedução da imagem da Globo que, embora nem sempre corresponda à qualidade do conteúdo, não tem como negar o seu nível técnico de primeiro mundo.
Tem um outro aspecto que parece servir de âncora que é esse seu lado conservador de resgatar a família, trazê-la para os holofotes, e assim lembrar da sua importância. Não apareceu ainda nenhum brother sem família. As turras ou não, e com a família que é possível, de fato, contar. Não deixa de ser comovente as homenagens explicitas ou indiretas a essa surrada instituição, em especial, aos pais. A atual fragmentação da existência, desemprego, luta pela sobrevivência, etc., já não é tão fácil reunir a família em torno da mesa, e dividir anseios, decepções e conquistas. Assim, a bela e confortável “casa” BBB encarna o sonho de consumo da maioria dos brasileiros, e ainda suscita o arquétipo do núcleo familiar que a comunidade dos brothers representa. A dinâmica de pais e filhos que brigam, amam, rejeitam, etc., mas também fazem as refeições juntos e as compartilham, estes rituais cada vez mais raros nos dias atuais.
Votar pela saída de um participante indesejado ou insuportável, é se sentir membro da “casa”, o que se faria na sua vida se, de fato, tivesse esse poder e liberdade, bem como de se aconchegar e se apoiar naqueles que simpatiza. Nesta interatividade, com exceção do gozo sexual que é “interditado”, o telespectador se identifica e projeta suas vontades e necessidades, “vivencia” as alegrias, as dores e os prazeres de tudo que se passa na “casa”. Pelo exposto, o público, certamente, tem seus ganhos subjetivos e, dependendo do ângulo de visão, o programa Big Brother também pode servir para algumas reflexões, isto porque, de alguma maneira, reflete muitas das características da sua gente. Finalmente, dos representantes das minorias oprimidas que foram hospedes da “casa”, já saíram vencedores: pobre, mulher e homossexual. Espera-se um milionário negro, mas que não siga o exemplo da ex-ministra Matilde Ribeiro, o dinheiro gasto por ela e outros, era do contribuinte. O vencedor do Big Brother não terá “cartão corporativo” (banana para macaco), se não tiver cuidado, em breve voltará a ser pobre. Numa afirmativa estranha para um cientista, Maturana (2006, p.122) diz que “a hipocrisia nos salva em muitas circunstâncias”. Mas parece que neste jogo, bem como na vida em geral, independente do ganhador, a Hipocrisia, sorrateiramente, tem sido uma incessante Vencedora.

Violência na Escola: 'não Mate Aula, Mate o Professor'

“Quando a criança e o adolescente se tornam uma ameaça, é sinal de que esta sociedade atravessa uma profunda decadência” (CESARE De La ROCA).
Este título, embora radical, violento e chocante, explicita uma realidade, de fato menos freqüente, e mais imensamente intensa no campo do simbólico. Sim, é verdade, “mata-se” professor cotidianamente. Segundo Ferrari e Araújo (2005) esta mensagem, bastante atual, estava estampada na camiseta de um adolescente, numa feira livre de artesanato em Belo Horizonte-BH, no ano de 2002. Falar desse “assassinato” é trazer à tona alguns segmentos diretamente ligados ao professor: o alunado e a instituição escola. E nesse contexto do magistério que o docente constrói, se constrói, consome e é consumido, num ofício marcado pela contradição do seu valor e sitiado pelas fantasias e projeções. O professor é o catalisador do qual se espera dê conta das inquietações, das angústias flutuantes do espaço educacional e das infiltrações do mal-estar social. O presente texto pretende fazer algumas incursões e articulações nesse universo, cujas mazelas estão presentes nas suas mais diversas formas e intensidades em quase todos os cenários dos ensinos de nível fundamental, médio e superior.
O sistema escolar esboça uma representação capitalista. A avaliação do aluno é traduzida em nota (simbolismo de dinheiro), se estuda matérias (que pode ser o metal ouro, latão, etc.) ou disciplina (que lembra regime militar, que enquadra, obriga). Por sua vez, as matérias ou disciplinas compõem a grade (simbolismo de prisão) curricular. Para Nóvoa (2008, p.231), “é importante que se caminhe para a promoção da organização de espaços de aprendizagem entre os pares, de trocas e de partilhas”. Mas, esse modelo em voga estimula o consumismo (as notas altas estão associadas a saber mais, e alguns alunos ficam vaidosos de tê-las mesmo quando não corresponda a sua aprendizagem, ou que tenham obtidas por meios escusos), a rivalidade e a competição entre grupos (a exemplo da luta de classe social). Assim, os termos que definem a escola não remetem à idéia de um lugar onde se constrói o saber e o “saboreia” na sua socialização. Mas, a um ambiente que a priori não é o ideal de vida solidária. Como diz Maturana (2006, p.110) “não existe o fenômeno da competição sadia. A competição é sempre, constitutivamente, anti-social”.
A reciclagem e qualificação do professor demandam investimentos financeiros e dedicação pessoal. Mas, “o imaginário social atual ainda está fundado na retórica da missão, do sacerdócio e da vocação, arquétipo que impregna fortemente a história desse grupo profissional” (LELIS, 2008, p.59). Agora, pretende-se instituir o salário mínimo para o docente. Ninguém deveria receber salário mínimo, mas o salário justo de acordo com as suas capacidades, o suficiente para viver de modo decente, e não apenas para sobreviver no limite do colapso ou da asfixia. Entretanto, paga-se o mínimo e se quer o máximo. No caso do professor ainda tem um agravante, exige-se que ele esteja sempre atualizado, “esquecem” que livro, curso, etc., são muito caros, e não há verba sacerdotal para o seu subsídio. Embora, alguns felizardos que conhecem as “manhas”, consigam ajuda para congresso até no exterior.
A missão “divina” do magistério termina, quase sempre, sendo coroada pelo parco salário bem típico em todos os níveis do professorado. No Brasil, segundo Nazarian (2007, p.7) “os professores ganham tão pouco que muitas vezes têm menos acesso a possibilidades culturais do que os seus alunos...”. Só excepcionalmente se ver cena como esta: Num grupo de pares um professor, certamente meio surtado, disse que ganhava mais do que merecia. Em coro ouviu dos colegas: “Então nos passa o excedente”. Todos, sociedade, governo, etc., reconhecem o papel do professor como de fundamental relevância para a educação. Mas esse mérito fica apenas na fantasia, porque, na maioria dos casos, o professor trabalha sem as condições básicas de ensino. Na verdade, o discurso demagogo que enaltece o educador, é uma manobra para não deixar que venha à tona o limbo da negligência em que, comumente, essa atividade é lançada. O professor nunca é alvo de elogio que transforme em benefícios reais para o seu oficio, sua melhoria logística e qualidade de vida. Mas de pesadas e destrutivas críticas que se destilam a cada momento em artigos de jornais, de revistas, etc.
O professor também é feito, com freqüência, de saco gratuito de pancadas. Três alunos de medicina comentavam, num ônibus, sobre uma prova, e um deles vociferava que iria matar do coração o professor daquela disciplina. Indagado por qual motivo ele queria fazer isso? De imediato o universitário disparou: “Tenho que descarregar minha raiva em alguém!”. Segundo Touraine (2007), ao perguntar para um jovem: “Qual a categoria social que ele mais odiava?”. Teve como reposta: “Os professores, porque eles mentem, enganam, e nos chamam para integrar numa sociedade desintegrada”. Há uma violência circundante, uma desumanização que beira o absurdo de não enxergar o educador como gente. Enfim, sem respeito à sua dignidade, de modo implacável, todos os dias nos mais variados contextos urbano, suburbano e rural deste país, sabe-se lá também do mundo, “mata-se” professor. A relação professor-aluno nem sempre é harmoniosa ou fácil. Com um tanto de exagero Freud (apud KUPFER, 1995, p.12) diz que “educar [...] é uma profissão impossível”. Parece que o conflito maior dessa díade está exatamente na dinâmica que os unem: o ensino. Este por vezes, em razão da sua complexidade, os capturam em cobranças, intolerâncias e acusações mútuas. Para Nóvoa (2008, p.229) “uma das razões principais desse mal-entendido está ligada à convicção de que o ensino é uma atividade relativamente ´simples`, que se exerce ´naturalmente`”.
Uma outra dificuldade está relacionada à questão pedagógica. Segundo Gadotti (2006), a pedagogia não-diretiva, por exemplo, tem como objetivo central a autogestão. Isto é, o professor não renuncia à hierarquia, ao mesmo tempo em que favorece a cooperação e a liberdade de expressão dos alunos. Mas, hoje o que se percebe é uma “pedagogia” que chamo do “acolhimento maternal”. Ela é orquestrada pelo desejo de agradar para ser bem conceituado ou para encobrir fragilidade/s da competência funcional. Assim, para que o aluno não tenha que enveredar esforços recebe tudo, praticamente, pronto, bem “mastigado”. Essa facilidade parece não ter limite, e induz o alunado a um comportamento puramente hedonista. Como se na vida real - a escola, às vezes, parece mais uma nave de outra galáxia, esquisita, suspensa no vazio -, justo num mundo altamente competitivo e impessoal, o aluno, na sua futura vida profissional, estivesse isento de qualquer sacrifício. Essa postura é prejudicial na formação discente, uma vez que não o conscientiza, como diz Morin (2006, p.5), de “assumir sua própria educação”, ou seja, o professor “não pode mais apenas contentar-se em ´transmitir o seu saber`, mas deve levar o aluno a ser o ´ator` da sua formação e ajudá-lo a tornar-se um ´sujeito` que perceba o sentido da aprendizagem” (MAROY, 2008, p.72 - grifos do autor).
Na compreensão de Reboul (apud GADOTTI, 2006, p.85 - grifo do autor), “desde que é obrigado a aprender, o estudante duvida de sua experiência, deixa de ser ´congruente` e, portanto, criador”. A questão não é a obrigação, uma vez que essa é uma condição indispensável para se viver em sociedade, a incongruência está na ausência da identificação que torna esse processo intolerável. Ainda para o autor, “numa época mais do que nunca necessitada de criatividade, o ensino tradicional não forma senão conformistas ou revoltados”(p.85). A maioria dos alunos, geralmente, não está identificada com a aprendizagem ou curso, por isso os professores, na maior parte do tempo, os convida insistentemente para estudar o que eles, certamente, não vêem nenhum sentido prático ou significado para suas vidas. Seus interesses estão voltados para suas singularidades que não estão dentro da escola, o que gera apatia, indisciplina e outros.
Entre outras, é função do professor, segundo Moon (2008), estimular a curiosidade intelectual, passar entusiasmo pelos temas ensinados, e manter a motivação dos alunos. Mas, muitos professores “confundem” aula dinâmica, com animação de programa de auditório, na esperança de que os alunos não se enfezem e possam evadir da sala de aula. Demo (2005) descreve algumas desses tipos, entre elas estão: a) aula divertida - faz a turma rir, gritar, refestela-se. Exige do professor habilidades incomuns, a exemplo de retirar coelho da cartola. Mas nem todos os professores se revelam bons “palhaços” ou contadores de piada; b) aula efeitos especiais - chama a atenção por meio da dramatização, usa recurso de teatro, vídeos, filmes. Podem ser úteis, mas não resultam em processo de pesquisa e elaboração, recaem facilmente na reprodução inconseqüente de apenas encher o tempo; c) aula eletrônica - entrete o aluno com cores e textos bem desenhados do tipo data show, coloca na tela chamadas e apontamentos. Mas, no concreto, a qualidade não está no show.
O marasmo do aluno do ensino fundamental ou médio, é até compreensivo, porque são muito jovens e imaturos. Assim, não conseguem fazer uma ponte com uma futura carreira profissional. Em vista disso, todos os conteúdos se reduzem a um amontoado de “bizarrices” que tem de decorar até o esperado e ansiado momento do vestibular, para se verem livres ao “despejá-las”. Mas quando a desmotivação é no curso superior, este que resultou de uma opção, parece bem mais complicado, pois seria de esperar, pelo menos em tese, que a maior parte das disciplinas fosse do interesse do aluno, embora possa existir, o que é natural, mais identificação com algumas. Na realidade, hoje se faz a apologia contra sala de aula, que leva a acreditar que ali, por falta de “movimento”, a aprendizagem não ocorra. Assim sendo, toda atividade que se proponha a ser desenvolvida nesse fórum, outrora de construção e troca de saberes, que não se arme de recursos da modernidade ou de alguma estripulia, logo é tida como enfadonha. Como se a aula expositiva, por exemplo, não fosse capaz de instigar idéias e reflexões, que o aluno não pudesse ser “tocado” e, por conseguinte, vê seus horizontes ampliados.
Para Reboul (apud Nóvoa, 2008), a civilização está em crise, e o sinal mais convincente disto é, sem dúvida, a falência da educação, que talvez pela primeira vez na história o homem se reconheça incapaz de educar seus filhos. Atualmente um dos fatores de desmotivação do alunado é também a incerteza, não existe garantia de que, após a conclusão do curso, ele seja absorvido no mercado de trabalho. Segundo Tavares (2002) professores e alunos terão de levar para sala de aula as grandes preocupações da atualidade que afligem a humanidade: desemprego, violência, insegurança, injustiça, exclusão social, etc. Essa falta de garantia faz o aluno não investir, com mais afinco, no seu crescimento profissional, pois espera contar com a sorte ou com o conhecido “QI”(quem indica). Outros, mais preocupados em assegurar uma fonte de renda, fazem dois cursos em paralelo. Uma vez que, é humanamente impossível se dedicar aos mesmos em profundidade, eles saem apenas com os conhecimentos básicos de cada um. Se por um lado, o “nosso sistema educativo é fraco e ineficaz, como mostram os maus resultados dos alunos e a situação generalizada de indisciplina” (APPLE apud NÓVOA, 2008, p.220). Por outro, nos dias de hoje, o alunado não tem pudor de exigir mais dos professores, porém na proporção inversa do que ele não corresponde e não se compromete com o seu desempenho.
Marton et al. (apud KARSENTI, 2008, p.185), advertem “contra a tendência a ver as TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) como uma solução por sua própria natureza. O alto nível de tecnologia não garante de facto (sic) a sua qualidade e ainda menos a sua pertinência educativa”. Por mais que a escola se modernize não tem como competir com a Internet, com ela o aluno tem o domínio, o poder de exercitar o seu poder de autonomia, e dispõem de inúmeros estímulos que jamais terá na sala de aula que, em termos comparativos, o deixa na condição “passiva”. Para Tavares (2002), urge implantar e desenvolver processos que ajude alunos e professores a serem mais resilientes para tornarem-se ativos na transformação e optimização da sociedade. Na opinião de Paillard (2002, p.10) a escola deve “ensinar não somente a pensar, mais também a viver na complexidade e incerteza”. É também preciso que professores e alunos suportem a dialógica dos contrastes, ou seja, da existência de aspectos rudimentares presentes na escola, entrelaçados com os instrumentos tecnológicos de última geração.
Apesar da supervalorização da informática, da tecnologia, que condiciona o indivíduo com o uso do celular, do computador (ainda que este, por vezes, seja problemático por causa da “virulência” ou incompetência das denominadas assistência técnica) e seus derivados ultra-rápidos. Para frustração de muitos, o homem pós-moderno ainda não se tornou totalmente ciborg. Segundo Lyotard (2008, pp. 95-6), “o professor não é mais competente que as redes de memórias para transmitir o saber estabelecido...”. Parece que não se trata de competência, mas de outras variantes de memórias, inteligências, etc., que estão em foco. A tecnologia deve servir como um meio importante que auxilia nos processos de aquisição de informações, conhecimentos e aprendizagens, e não para fazer, por excelência, a vez do professor. Se o aluno não adquiriu o hábito silencioso e solitário da leitura, então como é que ele vai conseguir lê alguns livros para suas pesquisas? Por conta dessa falta de hábito a fuga para os recursos eletrônicos foi triunfal, até porque há uma rejeição atual do aluno para tudo que não se relaciona à cibernética.
Segundo Abreu (2008), o uso sadio e adaptativo da Internet deu lugar ao abuso e à falta de controle ao criar impactos no cotidiano de milhões de usuários. Muitos apresentam prejuízos significativos na vida profissional, acadêmica ou escolar, social e familiar. O tempo médio relatados pelos usuários da Internet e de 4 a 10 horas durante a semana, e aumenta para 10 a 14 horas nos finais de semana (YOUNG e RODGERS, apud ABREU, 2008). Certamente também essa é a média de uso dos alunos diante do computador, mas não conseguem assistir cinqüenta minutos de aula sem sentirem algum incômodo. Enfim, a escola com sua “pedagógica” das facilidades ou do “acolhimento maternal” não prepara o aluno para a realidade, está dando muleta que invés de desenvolver suas aptidões para enfrentar às dificuldades, as atrofia.
Muitos alunos vêem o professor como ingênuo ou incapaz, e agem como que soubessem mais que ele, reclamam do ensino, mas se negam a aceitar o que a escola lhes oferece. Alegam que os professores, por medo da concorrência, não passam os conteúdos como deviam. Por que um professor, a exemplo do efetivo, teria medo da concorrência? A não ser que ele tenha parado no tempo deixando de se reciclar ou de buscar outras e novas fontes de conhecimentos. É sabido que ao ensinar aprende-se mais. Ou, “aquele que sabe age; aquele que não sabe, ensina”(VALÉRY apud NÓVOA, 2008, p.232). Em suma, o saber é aprofundado e multiplicado mediante as discussões e os questionamentos, ou seja, quando é socializado, e não do contrário, quando é retido. Talvez seja mais recorrente o que afirma Labaree (apud NÓVOA, 2008), diferente da maioria dos profissionais que mobiliza o saber sem o revelar, um bom docente se torna não-indispensável, e consegue que os alunos aprendam sem a sua ajuda. Assim, desmistifica o seu próprio saber e entrega a fonte do poder ao seu cliente (aluno), mistérios que outras profissões, zelosamente, guardam.
É possível que, em razão da falta de entusiasmo dos discentes, alguns professores, o que obviamente não devia, não sintam dispostos a se mobilizarem. Então, se restringem ao conteúdo programático ou ao estritamente solicitado. Mas, “ao contrário de outros profissionais, o trabalho do docente depende da ´colaboração` do aluno [...] Ninguém ensina a quem não quer aprender” (NÓVOA, 2008, p.229 - grifos autor). Esse ofício se efetiva em parceria, os alunos que pouco estudam, portanto, não são tomados pelas dúvidas que os levam a fustigar o potencial ou a competência do docente. Um professor seria cínico demais para continuar numa sala de aula sem emitir feedbacks a respeito do constante bombardeio de questionamentos dos seus alunos.
Freire (apud GADOTTI, 2006), diz que o profissional quanto mais se capacita, mais sistematiza suas experiências, e assim utiliza esse matrimônio cultural que é de todos, em prol dos mesmos, e isso mais aumenta a responsabilidade com os homens. Esta afirmativa, infelizmente, é utópica. A academia pulveriza perversidade por meio dos egos que flambam na vaidade, e se colocam não no lugar do “sujeito do suposto saber” a que Jacques Lacan se refere, mas de possuidores do saber. Os professores, nem sempre são bons exemplos de coleguismo. O simples fato de sermos humanos, segundo Rorty (2007, p.293), “não faz com que tenhamos um laço comum. Pois a única coisa que compartilhamos com todos os outros seres humanos é o mesmo que compartilhamos com todos os outros animais - a capacidade de sentir dor”. Os grupos de proximidade, estudantes ou profissional, parecem estar em crise por toda parte, deixando o indivíduo estrangeiro ou migrante, numa solidão que leva ou à depressão ou à busca de relações artificiais e perigosas (TOURAINE, 2007). Assim, “sozinho, mas semelhante aos outros, o usuário do não-lugar está com este (ou com os poderes que o governam) em relação contratual (AUGÉ, 1994, p.93 - grifo do autor). Mesmo sem a intenção, os professores deixam escapar a fragilidade dos vínculos do corpo docente. Os alunos menos escrupulosos, são mais sensíveis a essa falta de unidade, de identidade corroída pelas neuras e competição. Por conseguinte, manipulam ao seu favor, procuram tirar o máximo de proveito disto, às vezes, “jogando” um professor contra outro ou a instituição. Ou seja, esse “espaço do não-lugar não cria nem identidade singular nem relação, mas sim solidão e similitude (AUGÉ, 1994, p.95).
No entender de Maroy (2008, p.72 - grifo do autor), “...o docente deve tornar-se um prático reflexivo, capaz de adaptar-se a todas as situações de ensino pela análise das suas próprias práticas e de seus resultados”. Mas essa não tem sido a praxe docente ao longo de várias décadas? O que difere hoje em dia é a inserção de novos elementos no contexto do ensino-aprendizagem, em um universo cuja matéria prima que é a educação, não mais detém uma posição primordial. O professor perdeu status, e por isso, concorre agora com o desinteresse e falta de perspectiva do aluno, com o “fetichismo tecnológico” (BAUMAN, 2008, p.119), etc. Isto é, “a carga de trabalho dos professores é mais pesada do que antes, e sobretudo mais absorvente, mais exclusivista e mais exigente, enquanto os meios e os financiamentos encolhem”(TARDIF e LESSARD, 2008, p.10).
Melman (2003, p.69) diz que “a violência aparece a partir do momento em que as palavras não têm mais eficácia. A partir do momento em que aquele que fala não é mais reconhecido”. Esta estrutura cabe, perfeitamente, na questão burocrática que a entendo como um tipo específico de violência. Ou seja, onde a palavra não tem crédito se instala a desconfiança que é controlada pela burocracia dos infindáveis documentos e assinaturas. A escola é um anfiteatro no qual a burocracia é soberana. Mas não quer dizer que seja ética ou justa, pode servir, em nome da legalidade, tanto para favorecer quanto para prejudicar indivíduo/s, conforme a intenção de quem tutela. Alguns, de posse da ferramenta burocrática, sem necessariamente exercer função burocrática, se deliciam no prazer sádico de travar a dinâmica da vida ordinária de simples mortal/ais igual/ais a sua pessoa.
Segundo Melman (2003), a perversão se tornou uma norma social, está hoje nas relações na maneira de se servir do outro como um objeto, que se descarta quando ele não atende mais aos seus interesses. Com base em Castoriadis, Gonzáles Rey (2003), diz que a burocracia se organiza em um conjunto de rituais despersonalizados e improdutivos, que dificulta uma melhor aproximação com a realidade, e se convertem em um impedimento com vida própria, ao que todos acabam se subordinando. Diria que pior do que submeter à burocracia, porque do contrário teria prováveis prejuízos, é reproduzir esse flagelo.
A dita afinidade por linha de pesquisa é outra questão problemática, em nome da mesma os professores se fecham em pequenos grupos, e a usam como critério para excluir aqueles com os quais não simpatizam. Portanto, essa formação mais do que pela competência se dá pela via como o professor seduz e se permite ser seduzido por um grupo específico. Para Morin (2005), é uma pena que as instituições, normalmente, eliminem aqueles que se desviam. Isso ocorre porque as “personalidades exuberantes em geral são tidas como perigosas”(LINS, 2006, p.34). Assim, “em decorrência de suas personalidades, certas pessoas correm o risco de fazer sombra a um superior ou a um colega. A tentação de rebaixá-los ou afastá-los pode então ser grande” (HIRIGOYEN, 2006, p.220). Enfim, “a incompetência é uma ameaça para a própria pessoa; a competência é uma ameaça para os outros” (AMIEL e MARCHIO apud HIRIGOYEN, 2006, p.221).
Na escola não há sentimento de coletividade, mas de grupo seja de aluno ou professor. Chauí (2006) diz que a sociedade brasileira, conserva os traços do escravismo, é nessa verticalidade nas suas relações sempre alguém se põe como superior ao outro. Há um semblante de arrogância, sobretudo, nos ditos pesquisadores ou nos que assim se auto-intitulam. O julgamento de valor é compactuado para estrangeirar aquele que não faz parte dos mesmos interesses e amizades. Para Codo (2004, p.12), “o trabalho pode enlouquecer. Então é possível falar, estrito senso, em uma psicopatologia do trabalho”. Assim como existem patologias individuais, também existem as patologias coletivas (HIRIGOYEN, 2006), ou seja, o adoecimento mental pode ser decorrente de certas formas de organização do trabalho (SIVADON e Le GUILLANT apud LIMA, 2004). O universo escolar se mostra perverso porque resultou numa estrutura patologizante em virtude da sua abrangência (quer se interligar, indiscriminadamente, a todos os segmentos sociais) e indefinição (qual é, de fato, a sua função social). A escola teria que funcionar em conjunto com a família, a comunidade e o Estado. Mas escola deixou de ser motivo de respeito, e esses outros segmentos, com a morte do Pai Social, também perderam poder e, assim, se omitem, deixam de exercer seu papel de coadjuvantes da educação.
Assim sendo, apelaram para a sociedade que, de roldão, adentrou a escola. Mas, os papéis continuaram indefinidos, e as responsabilidades diluídas. Na condição de “amigo da escola” se ajuda quando pode ou quer, não tem compromisso, é um paliativo. No geral, depois de todas essas folias, resta a escola sozinha para conduzir todo processo de formação do aluno para o qual falta lhe os recursos materiais, apoio moral e autoridade real. A violência na escola reflete a violência generalizada gratuitamente na sociedade. Mas, é preciso também estudar as violências, os assédios morais no universo acadêmico, que estão sob os véus burocráticos e a cordialidade de uma humanidade postiça. Bourdieu (2004, p.98 - grifo do autor) entende que, “quanto mais a situação for carregada de violência em potencial, mais haverá necessidade de adotar certas formalidades...”. Os professores são vítimas e algozes de si mesmos. Assim, qualquer reforma do ensino e da educação, como salienta Karl Marx, deve, antes de tudo, começar com a reforma dos educadores.
Pelo exposto se conclui que a atividade de magistério é uma das mais insalubres. Para Gold e Roth (apud PEREIRA, 2002, p.77 – grifos do autor), “os problemas de saúde psíquica encontram-se no topo da lista de preocupações dos professores: stress, esgotamento (burnout1)”. Certamente têm professores descompromissados, etc., mas parece que um pouco mais da metade dos professores “levam a escola” para casa. Nesta, se trabalha bem mais do que no próprio ambiente escolar, seja elaborando ou corrigindo provas, confeccionando textos e apostilas, revisando trabalhos acadêmicos ou pesquisando. Diria que a doença afeta esses mais verdadeiramente envolvidos porque se tornam mais vulneráveis à sobrecarga, são mais exigentes consigo mesmos e mais competitivos.
Apple (apud NÓVOA, 2008, p.220) afirma que os “...docentes são malformados e estão mais preocupados com seus próprios interesses do que com os dos alunos [...] O saber ensinado na escola é obscuro e medíocre, e não consegue elevar o nível moral da nação”. As universidades têm uma política de qualificação. Mas, em algumas delas, o protocolo de liberação para mestrado, doutorado, etc., está sob a batuta de critérios, na qual vinga como mais determinante o entrosamento ou o status do professor de pessoa grata. Obviamente, tem aqueles que aproveitam as “brechas” e saem para estudar até o “sexo dos anjos”. Caso fosse seguida a lógica e o real propósito de qualificar o corpo docente, seria de se esperar que o professor, assim que desejasse se qualificar, uma vez aprovado lato ou stricto sensu, seria, sem mais delongas, imediatamente substituído. Se a qualificação é um bem também para a escola, então por que a liberação do professor para se qualificar está atrelada a uma conta? Só pode sair para mestrado, doutorado, etc., num ano y, um número x de professores, com base na contraditória economia de que se devem evitar ao máximo novas contratações de substitutos. Assim, a qualificação embora caiba aos interesses da universidade, se viabiliza como sendo de beneficio exclusivo ao professor.
Às vezes, alguns professores parecem que se especializam mais com o intuito de melhorar a condição salarial do que pelo legitimo interesse científico, assim, resolvem pesquisar o que está mais disponível, o que é mais fácil. Isso porque, na universidade “os critérios de qualidade levam em conta o número de artigos publicados, o número de doutores formados e a participação em congressos internacionais” (SCHWARTZMAN, 2008, p.14). Ou seja, se pauta no quantitativo. A relevância do tema é questionável, muitas vezes ela existe somente nas cabeças do orientando e do orientador. Na academia é proeminente a repetição, mas, às vezes, com outra “roupagem cheia de acessórios” para se insinuar nova, contemporânea, etc. Segundo Schwartzman (2008, p.14), “a aplicação da pesquisa não é valorizada. Com isso, os pesquisadores só querem publicar artigos em revistas internacionais e, assim, contar pontos para seu departamento”.
Em outras palavras, o que acaba tendo relevância é a vitrine, portanto sem a consistência e a durabilidade que caracterizam o efêmero da maioria dos “espetáculos”. Seguindo essa cartilha, o aluno prefere se inserir em algum tipo de bolsa pesquisa e publicar, do que assistir aula. E também de realizar seu trabalho de conclusão de curso em cima de pesquisa bibliografia, porque em termos de nota se tem o mesmo resultado que a pesquisa de campo, que é mais trabalhosa. Na contração do que pensa Gehringer (2008, p.126), “por mais diplomas que alguém possa acumular, continuará sendo a combinação de teoria e prática que vai garantir os melhores empregos”, na universidade, em geral, se valoriza título em detrimento da experiência ou da competência.
Em razão da exigência de títulos e publicações, toda perspectiva centra no indivíduo, como diz Nóvoa (2008 - grifos do autor), há o interesse docente apenas no que diz respeito aos seus saberes e capacidades pessoais, raramente se indaga sobre a “competência coletiva” que é mais do que a soma das “competências individuais”. Nessa perspectiva, “a colaboração docente-docente é amplamente considerada como uma estratégia capital para estimular e manter a inovação nas escolas” (FULLAN et al. apud ANDERSON e THIESSEN, 2008, p.142). Porém, atrelar o salário à produção cientifica parece que deteriora ainda mais a relação docente. A produção do saber deveria ser algo que passa, antes de qualquer coisa, pelo prazer, pela consciência de contribuir para as mudanças de mentalidade, de interferir na realidade, e não apenas movido pelo interesse financeiro.
Na Inglaterra, todas as universidades são públicas, porém administradas como se fossem do setor privado (SCHWARTZMAN, 2008), ao passo que a universidade pública brasileira funciona similar a partido político. Por esse motivo, o grupo que ganha o poder lutar para se manter, e grupo de oposição torce para que o da situação fracasse. Em razão dessa política a universidade é, por esta natureza, dividida. As propostas que são defendidas sempre trazem subjacentes vantagens para os do círculo dos conchavos. Como salienta Bauman (2008, p.72), “é difícil resistir à tentação quando a manipulação chega de modo relativamente fácil a todos que estejam ávidos por experimentá-la em busca do lucro”. No que corroborado por Hirigoyen (2006) quando diz que os indivíduos narcisistas seduzidos pelo poder se adaptam ao sistema perverso sem o menor senso crítico. Desse modo, estabelecem somente vinculações com base nas relações de força, desconfiança e manipulação. Assim sendo, a universidade pública, de algum modo, reproduz a podridão do jogo político partidário. Um país pode ser sério se não tem uma escola seria ou vice-versa?
Quando se coloca a educação como produtora maior da qualidade humana, isso nem sempre é verdade, porque não vem necessariamente acompanhada da ética. Nessa ótica, La Taille (2006 - grifo do autor) alerta que é preciso cuidado para não concluir que a sofisticação moral é privilégio de pessoas cultas. Há indivíduos com poucos conhecimentos científicos, políticos e psicológicos, que são mais capazes de ações morais bem superiores a vários “doutores” universitários. A escola está no capitalismo, vive para o capitalismo, e, no entanto querer negar essa sua inserção. O investimento na universidade pública não deve ser considerado a fundo perdido. Ela sai muito cara para os governos, ou melhor, para o povo e, por isso, deveria dar um retorno mais consistente. Como diz Schwartzman (2008, p.11), “uma universidade integralmente financiada pelo dinheiro público tem uma tendência à acomodação”. Embora o estatuto da universidade reze que ela esteja imbricada com a comunidade, sua praxe sugere ser um universo à parte, dissociada da realidade social.
Para Morin (2007), a universidade produz alta cretinização, a sua metodologia obscura não faz mais associação entre os elementos disjuntivos do saber, assim, não há possibilidade de registrá-los e de refleti-los. Por tudo isso a educação precisa ser repensada, mas os educadores, segundo Gadotti (2006, p.151), “...preferem esconder-se atrás da pseudociência ou da burocracia, para não se posicionar”. Uma crítica de Jean-Paul Sartre aponta que o intelectual era aquele que se metia com o que não era da sua conta. Mas, Neto (2006, p.273) entende o intelectual “como aquele que, por deter algum saber ou habilidade de análise específica, assume o papel de refletir criticamente sobre as grandes questões da vida pública”. Ele tem como função, uma postura de dominação simbólica (BOURDIEU apud WOLFF, 2006), que faz a ligação entre a infra-estrutura e a superestrutura (WOLFF, 2006), “leva à praça a discussão da ciência (como outras discussões). Nada garante, aliás, que ele tenha razão ou mesmo superioridade sobre o cientista” (RIBEIRO, 2006, p.146 - grifo do autor).
Os intelectuais nem mais falam do que seria da sua alçada, do contrário silenciaram por completo. Esta atitude, certamente, não é de incubação de novas compreensões, parece mais de omissão idêntica aos educadores. Diante dos insustentáveis valores e incertezas atuais, sem parâmetros seguros para analisar o epicentro das aberrações pós-modernas, eis o silêncio que não compromete, do que ariscar o próprio status em diagnósticos improváveis. Esse silêncio não justifica como deixa transparecer Wolff (2006), por considerar que o intelectual sendo filho da democracia, ele também é filho dessa crise de valores. Exatamente por isso, ele tem know-how para ser porta voz da “tradução” e significação das angústias sociais trazendo alguma luz ou indicando algum norte para caos instalado.
Enfim, no momento atual o que prevalece é o silêncio dos intelectuais, e o interesse dos cientistas para suas publicações que “em geral, elas ficam restritas ao âmbito acadêmico e não se transformam em produtos ou serviços úteis à sociedade” (SCHWARTZMAN, 2008, p.11). O que dizer da violência, de modo geral, e em especifico na escola? Segundo Keil (2005, p.27), “inegavelmente, a sociedade brasileira é uma sociedade violenta”. Diria que o mundo tornou-se violento, que “essa era tornou-se mais violenta, inclusive nas imagens” (HOBSBAWM, 2007, p.138), que as matrizes da violência deixam seus rastros por todo planeta. Bauman (1998, p.122), diz que “a violência tornou-se uma técnica. Como todas as técnicas, é livre de emoções e puramente racional”. Daí se deduz que a dita humanidade está vivendo na mais completa desrazão ou irracionalidade. Na compreensão de Arendt (apud CONTE, 2005), a violência destrói o poder. Este que é inerente a qualquer comunidade política e resulta da capacidade para agir em conjunto. Por isso, poder e violência se excluem, onde um se afirma em absoluto significa a ausência do outro.
Para Nóvoa (2008), os docentes devem ser formados, não só em relação à pedagogia com os alunos, mas também para relação social com as “comunidades locais”. Também devem saber: relacionar, relacionar-se, organizar, organizar-se, analisar, analisar-se que são condições essenciais para que se situem no novo espaço público da educação. Mas, a burocracia dominante na escola, de alguma forma, encarcera o professor numa certa alienação. Não existe disposição criativa, e a repetição reforça a lei do menor esforço, do resultado pessoal imediato, sem compromisso com as reais e fundamentais mudanças. São projetos e mais projetos que não acrescentam nada ou abortam logo após a sua realização. Parece que o termo humorístico alemão, “Fachidiot” (literalmente idiota bem informado, em contraste com “Fachmann” ou especialista), diz muito do atordoamento docente. Ele ridiculariza os especialistas que, apesar de possuírem bastantes informações, demonstram uma total falta de perspectiva ou conhecimento mais amplo (CARRAHER, 2003).
A atribuída importância social do magistério não passa de uma fantasia, uma vez que não o tira da realidade do sofrível ao razoável, diante de uma sociedade cujos cidadãos pagam impostos e, em geral, ficam desassistidos do amparo científico. Mesmo assim, a imagem do professor “continua sendo positiva, pelos menos no plano simbólico, pois se depositam sobre os docentes a expectativa e a responsabilidade social de um futuro melhor” (NÓVOA apud LELIS, 2008, p.56). Um “curioso paradoxo: ´semi-ignorantes`, os professores são considerados como a pedra fundamental da nova ´sociedade do conhecimento`”. Porém, Nóvoa (2008, p.233), alerta para “não alimentar ilusões nem sonhos de redenção social: a escola vale o que vale a sociedade”.
Finalmente, o magistério, num contexto, quase sempre, precário, o papel do professor se adéqua melhor à figura de super-homem. Ou, mesmo a imagem do Cristo crucificado, de cuja contemplação de sua carcaça se tem a fé de que dali possa extrair saber, força para viver e sentido para a existência. Por vezes, açoitado pelas altas exigências, falta de respaldo institucional e concorrência dos pares, etc., o docente sugere um dervixe2 rodopiando nos espaços da escola, mas sem encontrar nenhuma inspiração divina para transformar sua função, de fato eficaz e socialmente respeitada e apoiada. O cenário da escola que não é nenhum jardim de inocência, a violência que a atinge não somente vem de fora. Mas a própria escola também é gestora de violências, sejam elas sutis, simbólicas, impregnadas nas pequenas e aparentemente inofensivas ações, bem como em movimentos mais ostensivos e protegidos pela legalidade burocrática. Talvez, a violência seja, no momento atual, o produto mais abundante na escola como legado para a sociedade.

A Televisão e a Violência de Valores

Segundo PATRÍCIA EDGAR, para cada hora que uma criança fica diante da televisão cresce 9% as chances da mesma se tornar agressiva. O Adulto já é vítima dessa estatística, pois passa muito mais tempo diante da TV. É dependente e organiza sua vida em função da programação da mesma. Torna-se então facilmente manipulado pelos valores que ela impõe: um deles A Violência.
O adolescente é o público alvo das mídias televisas, é a gatinha no Shopping Center, é a roupa de marca que sem ela nada de gatinhas, são as paqueras erradas ensinadas na Malhação – novela adolescente da Rede Globo. Mas não só tem as ações negativas não, existem aquelas que eles chamam do bem. Na Malhação – novela adolescente da Rede Globo pelo menos em uma de suas temporadas houve um caso de um adolescente que era do mau e se arrependeu a duras penas. Nesse caso os valores sociais não foram trocados.
A Violência tem vários falsetes, com ajuda desta tecnologia empregada exclusivamente para obter lucros. A idéia de uma programação saudável fica para segundo plano, pois ela só gera formação de caráter não os interesses vis do capital. Explicação lógica para milhões gastos em pesquisas pelas mantenedoras que não apresentam solução nenhuma principalmente frente á falência do processo de pesquisa financiado pelo governo nas Universidades Federais abandonados e sucatado para não expor a verdade.
A Força da Mídia tem sido sentida durante quatro décadas. As pesquisas estão soltas por não encontrar a resposta certa para combater esses abusos que invadem os nossos lares, fazem a cabeça de nossos adolescentes encaminhando-os para uma vida agressiva e até a criminal.
Não é a tecnologia televisa que é ruim é a formação do nosso adolescente que vai entrar em contato com ela que a absorve e interpreta de acordo com suas experiências, seus dialetos, sua formação, seu ambiente de vida. Um ser desestruturado financeiramente, casamento destruído, valores corrompidos pelo roubo, pela prostituição, pela fome, pela falta de estudos – Analfabetismo, pela prole extensa e sem prospecção futura será abraçado pela violência não conseguindo ficar livre da influência dos conteúdos das diversas mídias que encontramos com tanta facilidade e seus dependentes também.Analisando um Capítulo de NOVELA exibido em 23/06/2007, na Rede Globo de Televisão, observei o seguinte:
Nome do Programa
Data
Personagens
ViolênciaVerbal
IncentivoViolência Pessoal/ Malícia
Sete Pecados
23/06/07
DOIS ANJOSSupõe Livres de Pecados
Dois Palavrões
Mulher livre para Homem CasadoAdultério
Novela
23/06/07
COMUNS
Taxista;
Esposa;
Herdeira Rica Adúltera;
Irmã invejosa;
Feiticeiro/Astrólogo interesseiro;
Alunos pobres, pais presidiários, mães prostitutas, moradores do morro, indisciplinados;
Ameaça a Diretora da Escola.

Nove (9) Expressões Maliciosas
No quadro acima encontramos explícita a forma como a desinformação deturpa os valores da sociedade, começando pelo nome da novela – Sete Pecados, que nos dá a entender que será algo instrutivo sobre os sete pecados capitais, para todos aprenderem que não os deve cometer. No entanto ao assistir o capítulo deste dia me deparei com dois anjos que deveriam pregar a paz e a virtude, o anjo feminino pronunciando expressões de baixo calão, (no horário conhecido como “DAS SETE” (geralmente neste horário ainda tem muitas crianças e adolescentes que riem demais com essa descultura)) em meio a uma neve tão branca como não eram as suas palavras. Podemos comparar a neve branca nesse caso com o poder financeiro - da luxúria e riqueza da esnobe personagem principal – que facilita o conhecimento turístico em outras terras tão diversas de nossa realidade.
Pode um taxista, sem querer depreciar a profissão, caso não tenha outras formas de rendas está viajando para fora do país? Só fora da realidade? Nosso povo já é tão sofrido, precisa ser humilhado a tanto? Logo em seguida, garimpando as falas de todas as personagens com atenção, assinalei nove (9) frases maliciosas as quais eu anotei sem o nome das personagens, mais pela ordem que foi pronunciada ao decorrer do capítulo, o que não impossibilita ao telespectador assíduo e manipulado desta novela de identificar as suas personagens: “...me leva até a cama...”, “...deu certo pedaço de mau caminho...”, “...ser mãe é padecer no paraíso...”, “...ela era brasileira e já me conhecia...”, “...qualquer coisa!...aqui o meu cartão...”, “...lindas peças de arqueologia!?...”, “...por que não me procura eu posso fazer muito por você...”, “...por que eu vivo perdendo tempo com esse duro...”. Quando alguém tenta colocar ordem nesse sistema passado pela televisão, que é um retrato da sociedade vigente, tem que ser parado a todo custo.
O sistema da violência e corrupção reage através de um aluno da Escola Estadual do subúrbio, que sem consciência de suas ações faz a seguinte ameaça depois de indagado pelos seus atos de indisciplina: “...o meu pai?... vai ter de esperar o dia dele sair da cadeia ...”. Ainda por não bastar o tema para música de abertura e encerramento questionam a perfeição humana, pois se todos são errados mesmos, era para se questionar a imperfeição, o famoso jogo de valores trocados. A luxuria em contraste com a pobreza, a enrrolação e o adultério descarado, a educação falida, o descaso com tudo. Esta novela representa a pior forma de violência, que não afeta o ser humano fisicamente, mas a sua mente, nos seus valores e sua auto-estima.
Na sociedade - dos adolescentes Videotas - o nível de agressão contribui para um comportamento anti-social, que nos é apresentado nos variados programas tidos por alguns pseudo-intelectuais como de pobre: Fique Alerta, Plantão Alagoas, Oito Minutos. Não são de pobres, mas sim que atingem mais facilmente ao entendimento das classes a qual é dedicado – as mazelas da classe pobre. Onde, devido aos fatores citados anteriormente, nela ocorrem mais o uso de drogas, o tráfico, o desemprego, a prostituição e a falta de informação do indivíduo.
Já na Classe Média encontramos os adolescentes com os mais variados gostos, geralmente com uma televisão no quarto, um vídeo game, e em alguns casos um computador, no entanto é ainda uma boa massa influenciável, apesar de ter grande parte das pessoas no ensino médio, ainda uma minoria no ensino superior, contudo uma classe bastante consumidora. A Televisão acerta em cheio com suas Telenovelas, ambientando diferenças financeiras reais, para ensinar que é através de falcatruas que se pode vencer. Pobre só cresce assim e no fim eles não reforçam que o pobre só leva a pior. Não há moral. Temos ainda programas exclusivamente consumistas do produto Novelas e Seriados da TV - produto interno da própria TV, como: Domingão do Faustão, O Melhor do Brasil, Tudo é Possível, Hoje em dia, O Melhor da Tarde e outros. Uma série de besteiróis violentando a nossa consciência.
Os Adolescentes pegam da televisão todo esse conhecimento pronto, daí o termo de enlatados, tudo arrumadinho, para que não se canse, que não pense muito para entender, esse estar pronto atrapalha o desenvolvimento do nosso jovem. Pois só servem ao interesses das grandes emissoras. Onde está às fábulas que faziam pensar e tinha sempre uma moral da história para se refletir sobre o que é bom e o que ruim? As novelas atuais não o fazem. Onde está às novelas ambientadas em romances clássicos? Elas não dão audiência. Na atualidade torna-se a TV o verdadeiro centro de ambigüidades e confusão na cabeça do adolescente. Os Valores trocados são passados meramente em função do lucro. A única forma de trabalhar esse capítulo dessa novela com o adolescente é mostrar o processo de anti-propaganda que feito para esconder seu real objetivo, que é o lucro e incentivar a quebra dos valores da sociedade.
Para a classe rica ficam as opções, poder de escolha dado pelo poder aquisitivo e pela boa formação. A TV por assinatura, mídias variadas a sua disposição. Longe das mazelas da vida se letrada – acadêmica – acorre a Jô Soares, a um Serginho Groisman. Toma conhecimento da violência, tem consciência dela, mais nada pode fazer em sua concepção, pois muitas vezes essa violência a faz muito mais rica, a rica classe rica.
Assim, os nossos adolescentes precisam receber de nós que fazemos à sociedade, governantes, empresários, educadores e dos profissionais da Comunicação uma sociedade mais justa, mais equilibrada, reduzir das mídias sua agressividade e troca de valores para que a televisão possa inspirar e informar contribuindo para seu verdadeiro papel que criar homens com mentes educadas e valores morais.
Referência Bibliográfica:
EDGAR, Patrícia .Violência na TV: o bom e o mau para nossas crianças é presidente da World Summit on Media for Children Foundation, e diretora-fundadora da Australian Children´s Television Foundationhttp://www.midiativa.tv/index.php/midiativa/content/view/full/1752/

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Corrupção: Impunidade é a principal causa da prática ilegal

Quem acompanha o noticiário político do Brasil atual pode pensar que nunca na história houve tanta corrupção e que o problema é típico deste país, senão exclusivo. Não é o caso, como se pode demonstrar a partir de relatórios internacionais sobre o assunto. Também não é verdade que todo político seja corrupto: há exceções.
É muito importante tomar cuidado com as generalizações apressadas, pois elas impedem que se conheça uma questão a fundo. Conhecer é sempre o primeiro passo para a solução de um problema. Portanto, para começar uma reflexão sobre o tema, vale a pena estabelecer o significado preciso do termo corrupção.
Para isso, pode-se recorrer ao primoroso "Dicionário de Política", dos italianos
Norberto Bobbio, Nicola Matteuci e Gianfranco Pasquino, três grandes juristas e filósofos. Em seu verbete sobre corrupção, está escrito:
"Fenômeno pelo qual um funcionário público é levado a agir de modo diverso dos padrões normativos do sistema, favorecendo interesses particulares em troco de recompensa. Corrupto é, portanto, o comportamento ilegal de quem desempenha um papel na estrutura estatal".
Ilegal, mais do que imoral
Antes de prosseguir, alguns esclarecimentos: na categoria "funcionário público" incluem-se os políticos, magistrados e governantes. Em segundo lugar, vale dar destaque à expressão "estrutura estatal": não se está falando da sociedade civil, de empresas privadas, mas da máquina do governo. Finalmente, é importante não perder de vista o caráter "ilegal" da corrupção.
Tratam-se de atos que contrariam a lei e que se incluem na esfera criminal, independentemente da questão moral. Isso talvez explique o fato de que toda aquela retórica sobre
ética na política nunca tenha dado resultados no Brasil, revelando-se um discurso vazio e oportunista, destinado a angariar votos e desviar a atenção da opinião pública.
Pois bem, se corrupção é crime, convém lembrar que as práticas criminosas podem ser tipificadas. Em outras palavras, existem categorias de atos corruptos, das quais as mais comuns são:a) Suborno ou propina, ou seja, a compra de favores de um funcionário público. É o caso de uma cervejinha paga ao guarda para se livrar de uma multa de trânsito, mas pode se manifestar de maneiras mais graves e sutis, como o oferecimento de presentes valiosos para criar uma relação de companheirismo com autoridades. Assim, no momento necessário, pode-se abordar o presenteado, solicitando qualquer tipo de favor.
b) Nepotismo: concessão de empregos ou contratos públicos baseada não em mérito, mas em relações de parentesco. Trata-se de uma prática generalizada - historicamente - no Brasil. Por sinal, vale a pena observar: segundo pesquisa do Ibope em 2006, ela está de tal modo arraigada em nossa cultura, que 69% da população chega a considerá-la "natural" e positiva, pela percepção de que é um dever ajudar os familiares.
c) Peculato, isto é, desvio ou apropriação de recursos públicos. O exemplo clássico, neste caso, pode ser o do superfaturamento em compras ou obras estatais. O dinheiro excedente vai beneficiar os servidores envolvidos no processo, garantindo-lhes o enriquecimento ou a manutenção no poder, por meio do financiamento de suas campanhas eleitorais.
Um exercício proveitoso para o leitor seria encontrar exemplos dos três delitos seja no município ou no Estado onde mora, seja no âmbito nacional. Caso você se entregue a essa tarefa, não vai demorar a perceber que existem duas pontas na prática da corrupção. Elas se evidenciam mais claramente no caso da propina, onde é evidente a existência de uma transação ou troca entre quem corrompe (o corruptor) e quem se deixa corromper (o corrupto).
Os corruptos e os corruptores
Na história recente do país, a corrupção tem sido freqüentemente flagrada e exposta pelas autoridades policiais nos três poderes e alguns corruptos têm ido parar na cadeia, mas o mesmo não ocorre com os corruptores que, na maioria das vezes, conseguem se manter no anonimato.
Quer um exemplo? Tornou-se mais do que conhecido o nome do juiz Nicolau dos Santos Neto - o Lalau - que se beneficiou do superfaturamento nas obras do Tribunal Regional do Trabalho, em São Paulo. No entanto, alguém saberia dizer de imediato de quem era o dinheiro que ele adquiriu com a falcatrua?
Sem punição
Mais do que anônimos, os corruptores conseguem quase sempre escapar impunes. Aliás, a impunidade, com certeza, é uma das causas mais diretas da corrupção. Ter como certo que as possibilidades de responder pelo ato praticado são pequenas é quase um convite ao crime.
As causas da impunidade são muitas e complexas: entre elas, podem-se citar a morosidade da Justiça e a legislação inadequada ou complacente com este tipo de crime. Sem falar na própria corrupção, pois não são raros os casos em que um réu consegue comprar uma sentença que o beneficia e o transforma em inocente.
Além disso, não se pode esquecer o corporativismo, isto é, o fato de uma categoria profissional proteger os membros dessa mesma categoria, caso eles sejam flagrados na prática de um crime.
Em 1994, no escândalo conhecido como o dos anões do Orçamento, de 17 deputados acusados de corrupção, sete foram inocentados pela Câmara.
Contudo, no que se refere à corrupção política, o corporativismo tem tido sua atuação atenuada, na medida em que surgiram organizações não-governamentais que fazem denúncias e acompanham processos, como a
Transparência Internacional e a Transparência Brasil.

Era Bush:Dos atentados terroristas a uma enorme crise inanceira

As eleições norte-americanas de 2008 marcam o fim da "Era Bush" (2001-2009), que começou com o maior ataque terrorista cometido em solo americano e termina com uma crise financeira histórica, comparável, para alguns, com o crack da bolsa de 1929.
Neste período conturbado, nenhum dos presidentes dos
Estados Unidos foi tão odiado ou tão polêmico quanto o presidente George W. Bush, cuja política conservadora agrada uma parte expressiva do eleitorado do país, mas é vista com desagrado por seus opositores.
As intervenções militares no
Oriente Médio, por exemplo, que assumiram em sua gestão um caráter religioso, e a arrogância na condução da política externa, lhe renderam o apelido de "xerife" do mundo ocidental.
Em vida, nenhum outro governante da maior potência econômica e militar do planeta teve a administração retratada em tantos filmes - como o recente "W" de Oliver Stone - e livros. A maior parte das obras, com críticas negativas aos seus dois mandatos.
Mas que fatos e que agenda política fizeram de George Bush um presidente tão polêmico, dentro e fora dos EUA?
11 de Setembro
Bush tomou posse em janeiro de 2001, sucedendo o democrata
Bill Clinton, depois de uma vitória apertada contra Al Gore e em meio a denúncias de fraudes nas urnas, no Estado da Flórida.Filho do ex-presidente George H. W. Bush e herdeiro de uma dinastia de políticos e empresários ligados à indústria petrolífera, Bush, até iniciar a vida política, possuía uma biografia medíocre, marcada pela dependência de álcool superada por uma conversão religiosa.
Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que vitimaram mais de 3 mil pessoas, a maior parte após a colisão de dois aviões com as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, mudou sua história e a dos EUA.
Imediatamente após os atentados, o presidente elegeu os terroristas como inimigos oficiais do mundo livre, manipulando um clima de medo comparável ao da
Guerra Fria e o perigo "vermelho" representado pelos comunistas, durante o período do marcartismo.
Para ele, a cruzada contra os terroristas islâmicos tornou-se uma espécie de "guerra santa" que justificaria uma política intervencionista, com campanhas militares dispendiosas em dólares e vidas humanas, além de acusações de violações dos direitos humanos e liberdades civis.
As investigações da polícia federal e do serviço secreto norte-americanos responsabilizaram a rede terrorista Al Qaeda, de Osama Bin Laden - cuja base de operações se localizava no
Afeganistão - pelos atentados. Na ofensiva, tropas americanas tomaram a capital Cabul e derrubaram o governo dos talibãs, mas até hoje o Afeganistão é uma zona de conflitos. Bin Laden continua foragido, apesar das promessas de captura pelo governo Bush.
Guerra no Iraque
Com propósitos mais duvidosos, em 2003 os EUA invadiram o
Iraque, apoiados pelo Reino Unido, sob a alegação de que a ditadura de Saddam Hussein produzia armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas.
Na época da guerra, Bush estava com a popularidade em alta, inclusive com apoio da maior parte da imprensa dos EUA, o que favoreceu a ofensiva contra o país. Porém, os planos de uma guerra rápida não se concretizaram. A transição de poder e as resistências locais prolongaram a investida e tornaram o Iraque uma espécie de novo
Vietnã, a traumática guerra que durou de 1958 a 1975.Passados cinco anos, a Guerra do Iraque teve um custo de milhares de vidas, civis e militares, e bilhões de dólares, além de gerar um impasse quanto à estratégia de retirada das tropas, assunto que divide os partidos democrata e republicano na atual sucessão presidencial.
Prisão de Guantánamo
Bush foi reeleito em 2004 com 51% dos votos e uma imagem que, aos poucos, se tornaria mais desgastada diante a opinião pública em seu segundo mandato.
Contribuíram para isso fatos como a demora na ajuda a meio milhão de desabrigados na passagem do furacão Katrina por Nova Orleans, em agosto de 2005, a recusa na assinatura do
Protocolo de Kyoto para redução de gases poluentes e acusações de tortura e violações de direitos humanos.
Neste sentido, o maior símbolo dos excessos da campanha antiterrorista de Bush, para seus críticos, é a prisão de Guantánamo na base militar norte-americana em
Cuba, que abriga prisioneiros, a maioria de origem árabe, acusados de ligações com grupos extremistas.
A manutenção de prisioneiros sem julgamento e as acusações de maus tratos mobilizaram entidades internacionais de direitos humanos. A recente determinação de soltura de um grupo, este ano, marca os primeiros passos para a interdição completa da prisão.
Legado
A recente crise que atingiu o mercado financeiro internacional fecha de maneira dramática a Era Bush e pode ser decisiva nas eleições de novembro, favorecendo o candidato democrata
Barack Obama, que pode se tornar o primeiro presidente negro dos EUA.
Apesar da popularidade em baixa, Bush ainda tem um forte apelo entre parte da população classe média, branca, cristã e conservadora dos EUA, a quem sempre agradou com sua política beligerante e oposições a leis em favor do aborto e do casamento gay.
O que prevalecerá de seu legado, se o pior presidente da história norte-americana ou um homem que teve pulso firme em tempos difíceis, será avaliado nas urnas em novembro e, no futuro, pela História.

Declaração Universal completa 60 anos:

Em 2008, completa 60 anos a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, no dia 10 de dezembro de 1948, sob a presidência do jurista australiano Herbert Evatt. Entre os países que defenderam com maior vigor o documento, destacaram-se o Reino Unido, o Canadá e os países latino-americanos.
Representante do
Brasil na Assembléia, o advogado e intelectual Austregésilo de Athayde saudou aquele instante como o início de "uma nova era de liberdade e de justiça". Nenhum dos países membros da ONU votou contra o texto do documento, embora as nações ligadas à União Soviética, a África do Sul e a Arábia Saudita tenham optado pela abstenção.
A Declaração era principalmente uma resposta da comunidade internacional à intolerância étnica e racial verificada na Europa e nas colônias européias no início dos anos 1930 e ao longo dos anos 1940. Mais especificamente, à grande tragédia em que consistira a
Segunda Guerra Mundial, caracterizada pelas armas de destruição em larga escala e pelos campos de concentração e extermínio do regime nazista.
Valores morais e éticos
O contexto mundial, porém, já era o da
Guerra Fria, com a polarização político-ideológica que colocava em confronto os sitemas capitalista e socialista e se manifestava, na prática, na disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética, e os países alinhados a essas duas potências. Num panorama como esse, era especialmente importante a afirmação de que toda a humanidade compartilhava de um conjunto comum de valores morais e éticos.
Basicamente, a Declaração tinha - e ainda tem - importância por reconhecer que a dignidade de todo homem consiste em ele ser uma pessoa, que tem de ser respeitada em sua individualidade, bem como integridade física e psicológica. O que fundamenta esse direito (do qual decorrem os outros) é pura e simplesmente a existência de cada ser humano. Basta nascer para usufruir dele.
Além disso, convém destacar o caráter universal desses direitos, que valem igualmente para todos os seres humanos, sem que se possa estabelecer ao termo "humano" qualquer tipo de restrição ou especificação, com base na raça, no credo, na posição socioeconômica, etc. Nesse sentido, a Declaração de 1948 é o apogeu de um longo processo histórico, cujas origens remontam à Antigüidade, à
democracia grega e à república romana, e que tem como marco fundamental a Revolução francesa.
Naquela época, contudo, os direitos eram restritos aos cidadãos da Grécia ou de Roma, nos quais não estavam incluídos, por exemplo, os estrangeiros ou as mulheres. Ao longo dos séculos, com maior ou menor intensidade, não só esses direitos foram se estendendo a um número cada vez maior de pessoas, como também foram compreendidos de uma maneira cada vez mais ampla.
Direitos e problemas
No mundo contemporâneo, quando se fala em direitos humanos, compreende-se basicamente três tipos de direito: a) os direitos de liberdade, que limitam o poder do Estado sobre os cidadãos; b) os direitos políticos, que facultam a todo homem, através da representação eleitoral, a participação na direção dos negócios públicos; c) e os direitos sociais ou econômico-sociais, relacionados ao trabalho, à educação, à saúde e ao lazer.
Compreender, reconhecer e declarar os direitos humanos foram passos importantes. No entanto, obviamente isso não significa que esses direitos passaram a ter vigência ou foram totalmente implementados. Em primeiro lugar, porque a Declaração não é um documento que tem força de lei, ainda que tenha inspirado, orientado ou servido como base para legislação internacional.
Em segundo lugar, por haver uma defasagem entre as normas estabelecidas e sua aplicação. Nesse sentido, a questão consiste nos problemas que as nações signatárias da Declaração e dos tratados e convenções nela inspirados têm para pôr em prática os direitos humanos, por meio de planos nacionais, de programas de ação e de legislação própria.Consiste ainda no enfrentamento às resistências locais contra a implementação desses direitos. De maneira geral, o caráter universal dos direitos humanos implica o combate a privilégios, o que naturalmente contraria interesses de indivíduos ou grupos.
Violações gravíssimas
Por outro lado, quanto mais cresce a demanda por direitos humanos e quanto mais os países se manifestam dispostos a aceitá-los e colocá-los em vigor, tanto mais se alastram os problemas e conflitos sociais e políticos, pelos mais diversos motivos, resultando, precisamente, na violação daqueles direitos, em especial do direito fundamental à vida.
Desse modo, seis décadas após a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ainda são comuns e freqüentes violações gravíssimas como o
genocídio, as mutilações físicas e o trabalho escravo. Elas ocorrem em praticamente todos os países do mundo, independentemente do seu grau de desenvolvimento, embora prevaleçam nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
Por: Prof. Roberto Sérgio(robertosociologo@hotmail.com)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Religiosidedade Africana

O candomblé e a umbanda possuem 16 orixás (as entidades cultuadas),
estes orixás corresponde a um ou mais santos católicos.
No período colonial no Brasil, chegaram ao país os primeiros africanos de origem iorubá,
um povo que ocupava a região onde hoje ficam Nigéria, Benin e Togo.

A religião dos iorubás era o candomblé, mas eles aportaram no Brasil como escravos e não podiam cultuar suas divindades livremente devido a religião oficial do país ser o catolicismo. Por causa dessa proibição, os escravos começaram a associar suas divindades com os santos católicos para exercerem sua fé disfarçadamente.

Como os santos católicos são bem numerosos, existem divindades que são identificadas com mais de um santo.
Por exemplo: Oxóssi, o rei da caça, é associado a São Jorge e a São Sebastião. "Essa relação com um ou outro santo depende da região do país, variando de acordo com a popularidade do santo no local", diz o sociólogo Reginaldo Prandi, autor do livro Mitologia dos Orixás.



Claro que a associação não é exata: ao contrário dos santos católicos, os orixás são entidades com virtudes e defeitos, e seus seguidores acreditam que eles conhecem o destino de cada um dos mortais.

A umbanda, é uma religião genuinamente brasileira, surgida na década de 30 no Rio de Janeiro
a partir da combinação de elementos do candomblé, do catolicismo e do espiritismo.
Assim como o candomblé, a umbanda também cultua os orixás.
Mas os umbandistas representam essas divindades com imagens diferentes, além de cultuarem outros três espíritos, o preto-velho, o caboclo e a pomba-gira. Nenhum deles aparece no candomblé.



As cinco principais entidades do candomblé e da umbanda

Iemanjá
SANTA CATÓLICA: Nossa Senhora da Conceição
No zodíaco corresponde ao signo "CANCER"

Iansã
SANTA CATÓLICA: Santa Bárbara
(Na doutrina católica, ela corresponde a Santa Bárbara -
também uma protetora contra raios, tempestades e trovões)
No zodíaco corresponde ao signo "SAGITÁRIO"

Xangô
SANTO CATÓLICO: São Jerônimo e São João
(Xangô é o deus do trovão e da justiça. Ele é associado a dois santos católicos: São Jerônimo, que no final do século 4 traduziu alguns livros da Bíblia do hebraico e do grego para o latim, ou São João, que pregava a conversão religiosa e batizou Jesus)
No zodíaco corresponde ao signo "LIBRA"

Ogum
SANTO CATÓLICO: Santo Antônio e São Jorge
(Ogum é o orixá da guerra, capaz de abrir caminhos na vida. Por isso, costuma ser identificado com Santo Antônio, o "santo casamenteiro", ou com São Jorge, santo guerreiro que é representado matando um dragão)
No zodíaco corresponde ao signo "ÁRIES"

Oxalá
SANTO CATÓLICO: Jesus/ Nosso Senhor do Bonfim
(Oxalá é a divindade que criou a humanidade - por isso, ele se equivale a Jesus, uma das manifestações do Deus triuno do catolicismo (pai, filho e espírito santo). Além de ter modelado os primeiros seres humanos, Oxalá também inventou o pilão para preparar inhame e é considerado o criador da cultura material)
No zodíaco corresponde ao signo "AQUÁRIO"

Outras Entidades:

> Exu: Anjo Gabriel (Leão)
> Oxóssi: São Sebastião (Touro)
> Nanã: Sant'ana (Escorpião)
> Omulu: São Lázaro (Capricórnio)
> Ibejis: São Cosme e Damião (Gêmeos)


Prof. Roberto Sérgio

domingo, 9 de novembro de 2008

As Cinco Maiores Religiões

Religião é um conjunto de crenças e filosofias que são seguidas, formando diferentes pensamentos. Cada religião tem suas diferenças quanto a alguns aspectos, porém a grande maioria se assemelha em acreditar em algo ou alguém do plano superior e na vida após a morte. Entre a grande quantidade de religiões existentes hoje no mundo, existem aquelas que se sobressaem e conseguem conquistar um grande número de fiéis. São:
Cristianismo: É a maior religião do mundo com cerca de 2.106.962.000 de seguidores. É monoteísta e se baseia na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré.
Islamismo: Possui aproximadamente 1.283.424.000 fiéis, é a segunda religião mais praticada no mundo. Além disso, é também um sistema que monitora a política, a economia e a vida social.
Hinduísmo: Com cerca de 851.291.000 de fiéis, é a terceira maior religião e a mais velha do mundo. A religião se baseia em textos como os Vedas, os Puranas, o Mahabharata e o Ramayama.
Religiões Chinesas: Possui aproximadamente 402.065.000 de seguidores que se baseiam em diversas crenças.
Budismo: Com aproximadamente 375.440.000 fiéis, ocupa o quinto lugar. É uma religião e uma filosofia que se espelha na vida de Buda. Este, não deixou nada escrito, porém seus discípulos escreveram acerca de suas realizações e ensinamentos para que seus posteriores fiéis pudessem conhecê-lo.
Por Prof. Roberto Sérgio