domingo, 30 de agosto de 2015

Algumas premissas teórico-metodológicas de Émile Durkheim.

Durkheim (1858-1917), importante teórico na história do pensamento sociológico, mantém sua importância e consegue influenciar, mesmo hoje, vários intelectuais. O primeiro sociólogo a ocupar uma cátedra de sociologia em uma universidade, um dos pais fundadores da sociologia moderna e militante durante o processo de institucionalização desta em âmbito acadêmico, tal autor é indiscutivelmente importante a quem deseja conhecer e se aprofundar no pensamento social científico. Apresentar algumas premissas teóricas e metodológicas deste grande intelectual expondo aspectos de suas três principais obras, consciente da impossibilidade de exaustão do assunto, constitui-se no objetivo deste texto.
O pensamento durkheimiano, como aponta Aron (1999), pode ser compreendido a partir do desenvolvimento de três principais etapas. Num primeiro momento, Durkheim define o fenômeno estudado – um fato social tratado como coisa. Na segunda etapa ele refuta as interpretações anteriormente dadas como causas de tal fenômeno. E, por último, é-nos apresentada uma explicação propriamente sociológica.
Émile Durkheim se utiliza do desenvolvimento metodológico anteriormente apresentado em suas três maiores obras: Da Divisão do Trabalho Social (1894); O Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912). É importante ressaltar que, em ambas as obras, as explicações refutadas o foram por se tratarem, também ambas, de explicações individualistas e psicologizantes. Vamos, então, a seguir, abordar cada obra separadamente. Em Da Divisão do Trabalho Social (1894), Durkheim critica interpretações deste fenômeno – divisão do trabalho – que possuem sentido progressista em que a diferenciação social, provocada pela divisão social do trabalho, é resultante de mecanismos individuais e psicológicos, como, por exemplo, o desejo de aumento da produtividade, busca pelo prazer e felicidade e desejo de superação do enfado.
Criticadas tais interpretações, Durkheim nos dá sua explicação propriamente sociológica: em primeiro lugar há a superioridade da sociedade sobre os fenômenos individuais. Em segundo, e em suma, são o volume e as densidades material e moral que resultam na diferenciação social, e não o que foi proposto pelos teóricos anteriores. São tais fatores, inclusive, que reverberam também na solidariedade orgânica, característica das sociedades industriais na qual existe a dada divisão do
trabalho.
Na obra O Suicídio (1897) são refutadas as interpretações nas quais o suicídio é causado por fatores individuais, psicológicos, loucura e alcoolismo. Como explicação sociológica e cientificamente válida, Durkheim apresenta a corrente suicidógena, um fenômeno social que, como o próprio nome diz, por tratar-se de uma corrente [como as de ar, por exemplo,] passa e atinge aos indivíduos que dispõe de tendência social ao suicídio manifestada por circunstâncias individuais. 
Em sua obra volta à religião – As Formas Elementares da Vida Religiosa (1913) –, e que marca uma mudança de interesses na produção intelectual de Durkheim, são excluídas as proposições que tratam do fenômeno religioso como animismo ou naturismo; visões estas essencialmente individualizantes. E, estudando as sociedades tribais australianas, nas quais, segundo Durkheim, há a forma religiosa elementar, o totemismo, é definido o fenômeno religioso como exaltação coletiva provocada pela reunião de indivíduos em um mesmo lugar de forma a transcendê-los. É, na verdade, a própria sociedade que os indivíduos adoram sem que o saibam. A religião consiste na divisão do mundo em sagrado e profano e é ela, como conclui Durkheim, o elemento fundante da sociedade. 
A concepção durkheimiana de sociedade vê esta enquanto um todo, ordenado, moralizado e coeso, composto por indivíduos, mas que ao mesmo tempo os transcende impondo-lhes condutas, regras e valores. Em toda a sua obra Durkheim tenta comprovar essa visão na qual a sociedade é isenta de conflitos; e, se estes existem, tratam-se apenas de patologias. Não podemos negar que tal ponto de vista custou caro a Émile Durkheim, sendo alvo de inúmeras críticas. Todavia, sua importância para a sociologia não diminui nem tão pouco diminuiu.

Referências
ARON, Raymond. Émile Durkheim. In: ______. As etapas do pensamento sociológico. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 288-365.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

______. As regras do método sociológico. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

______. Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

______. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Por que os jovens costumam tirar fotos em espelhos ou em banheiros ou, ainda, nos dois e postar no Facebook?

"Por que os jovens costumam tirar fotos em espelhos ou em banheiros ou, ainda, nos dois e postar no Facebook?" 
Essa pergunta veio de um dos leitores do blog Café com Sociologia. Existem diversas possibilidades de respostas, mas buscarei - me apropriando da Sociologia - dar uma “resposta” pelo menos orientadora.
Vivemos em uma sociedade onde a vida torna-se cada vez mais privada. O individualismo marcante de nossa sociedade tem levado os jovens a se fecharem em seu mundo, embora o ser humano tenha a tendência de interagir com outros indivíduos. Ainternet acaba sendo uma espécie de “válvula de escape” para essa individualidade que o perturba. Perturba porque o que somos, só somos a partir do outro, o qual é o nosso parâmetro. Buscamos ser muita coisa só porque do outro (não teria porque usar roupas novas e caras sem que as pessoas soubessem; ser bonito sem ser visto...). Vivemos o momento do "apareço, logo existo!" Mesmo em um mundo tão tendencioso à privacidade, essa parece ser a realidade.
Mas se o jovem só será algo a partir do outro, como lidar com o individualismo?
A saída tem sido a interação social por meio das redes virtuais de relacionamento. Por meio de tais redes o jovem consegue manter sua individualidade de forma pública. Como assim? Simples: se mantendo em meu mundo real individualizado e, ao mesmo tempo, participando de um outro mundo mais social, porém mais seguro que aquele. Mais seguro porque sua publicidade, de certa forma, é controlável. Pode escolher quem e o que quer compartilhar, ser visto. Isso nas relações sociais cara-a-cara não é tal fácil. Pode ter centenas de amigos e deixar de ter tais amigos em poucos cliques. Mas qual a relação disso com fotos em espelhos e banheiros?
O individualismo fez com que o jovem se sinta mais seguro quando está só. Estando só, no banheiro ou no quarto, cria-se um cenário propício para uma auto fotografia sem constrangimentos; sem ninguém para avaliá-lo. Assim, em seu mundinho individual, se sente seguro para fazer tantas poses quanto for necessária para uma foto classificável como boa (que ao meu ver são sempre horríveis, principalmente aquelas acompanhadas de biquinhos... rsrsrs). Não tendo nenhum parâmetro não precisará se preocupar com “micos”. Feitas as poses terá a possibilidade de publicizar no facebook a foto escolhida, tida como a melhor. Essa publicização ocorre de modo controlado... a qualquer sinal... qualquer comentário indesejado... a foto poderá ser retirada do compartilhamento. Essa postura aponta que a coletividade só é realizável devido a possibilidade de, ao menor sinal de perigo, retornar a “individualidade segura”. Assim, aparece para existir, mas se necessário desaparece em instantes!
Em suma, não seria possível se expor no mundo real pagando micos carregados de poses e biquinhos... melhor recorrer ao espelho!
Por Cristiano das Neves Bodart