segunda-feira, 22 de junho de 2009

Pesquisa indica que há 99,3% de preconceito no ambiente escolar

O estudo, pioneiro no Brasil, foi realizado com o objetivo de dar subsídios para a criação de ações que transformem a escola em um ambiente de respeito às diferenças
Pesquisa realizada em 501 escolas públicas de todo o país, baseada em entrevistas com mais de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, revelou que 99,3% dessas pessoas demonstram algum tipo de preconceito etnorracial, socioeconômico, com relação a portadores de necessidades especiais, gênero, geração, orientação sexual ou territorial. O estudo, divulgado hoje (17), em São Paulo, e pioneiro no Brasil, foi realizado com o objetivo de dar subsídios para a criação de ações que transformem a escola em um ambiente de promoção da diversidade e do respeito às diferenças.
De acordo com a pesquisa Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) a pedido do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 96,5% dos entrevistados têm preconceito com relação a portadores de necessidades especiais, 94,2% têm preconceito etnorracial, 93,5% de gênero, 91% de geração, 87,5% socioeconômico, 87,3% com relação à orientação sexual e 75,95% têm preconceito territorial.
Segundo o coordenador do trabalho, José Afonso Mazzon, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a pesquisa conclui que as escolas são ambientes onde o preconceito é bastante disseminado entre todos os atores. “Não existe alguém que tenha preconceito em relação a uma área e não tenha em relação a outra. A maior parte das pessoas tem de três a cinco áreas de preconceito. O fato de todo indivíduo ser preconceituoso é generalizada e preocupante”, disse.
Com relação à intensidade do preconceito, o estudo avaliou que 38,2% têm mais preconceito com relação ao gênero e que isso parte do homem com relação à mulher. Com relação à geração (idade), 37,9% têm preconceito principalmente com relação aos idosos. A intensidade da atitude preconceituosa chega a 32,4% quando se trata de portadores de necessidades especiais e fica em 26,1% com relação à orientação sexual, 25,1% quando se trata de diferença socioeconômica, 22,9% etnorracial e 20,65% territorial.
O estudo indica ainda que 99,9% dos entrevistados desejam manter distância de algum grupo social. Os deficientes mentais são os que sofrem maior preconceito com 98,9% das pessoas com algum nível de distância social, seguido pelos homossexuais com 98,9%, ciganos (97,3%), deficientes físicos (96,2%), índios (95,3%), pobres (94,9%), moradores da periferia ou de favelas (94,6%), moradores da área rural (91,1%) e negros (90,9%).
De acordo com o diretor de Estudos e Acompanhamentos da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação (MEC), Daniel Chimenez, o resultado desse estudo será analisado detalhadamente uma vez que o MEC já demonstrou preocupação com o tema e com a necessidade de melhorar o ambiente escolar e de ampliar ações de respeito à diversidade.
“No MEC já existem iniciativas nesse sentido [de respeito à diversidade], o que precisa é melhorar, aprofundar, alargar esse tipo de abordagem, talvez até para a criação de um possível curso de ambiente escolar que reflita todas essas temáticas em uma abordagem integrada”, disse.
Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

OBAMA, CUBA E A AMÉRICA LATINA

O povo norte-americano não conheceu os dissabores do colonialismo, como os conhecemos. O povoamento do território começara pouco antes do confronto que, na Inglaterra, opusera os Comuns e os Stuart, e manteria a tensão política na Grã Bretanha até a Glorious Revolution de 1688, não deixando tempo para outras preocupações. No século 18, com a expansão imperial inglesa na África e na Ásia, Londres tampouco se preocupou com a América: ali só havia bons ingleses, cnservadores de sua cultura e de suas crenças. Não havia por que temê-los, nem por que os tratar com arrogância.
As tensões internas nos Estados Unidos só se iniciaram com a expansão ao Oeste e ao Sul, que os levou a dizimar povos autóctones, a comprar territórios vizinhos, como os do Vale do Mississipi (incluindo a Luisiania), da França, e o Alasca, da Rússia, e a invadir estados soberanos, como fizeram com o México, no qual se apoderaram de 1,3 milhão km2. Pensando como europeus, os norte-americanos deles herdaram a ideia de supremacia sobre os vizinhos. Sentiam-se no direito de estender a "civilização", substituindo os espanhóis na exploração dos bárbaros do Sul. É de se lembrar que "humanistas" da Europa aplaudiram a guerra contra os mexicanos, ocorrida entre 1846 e 1848.
Essa visão preconceituosa, aliada à ganância de lucro dos homens de negócios, separou a América do Norte dos povos latino-americanos. Os países que mais sofreram foram os menores, como os da América Central, que se transformaram em repúblicas bananeiras, exploradas pelas companhias norte-americanas, entre elas a famigerada United Fruit. Os países meridionais, ainda que distanciados, também sofreram e ainda sofrem seu domínio político e econômico. Há ainda a registrar sua frequente intervenção nos assuntos internos latino-americanos, como na Guerra do Chaco entre o Paraguai e a Bolívia, e a promoção de sangrentos golpes de Estado, entre eles os do Chile, da Argentina e do Brasil.
Há um passivo difícil de ser liquidado. Ele é ainda maior no caso de Cuba. O governo Eisenhower não conseguiu entender o objetivo real da Revolução Cubana, que era, além de melhorar a vida de seu povo, o de derrubar Batista e impor a moralidade burguesa aos costumes de Havana, com o fechamento dos bordéis e o controle dos cassinos explorados pela máfia de Chicago. Poucos dos revolucionários ( o Che entre eles) imaginavam ser possível um regime socialista na ilha. A pressão dos poderes de fato dos Estados Unidos levou o governo de Washington a iniciar sua hostilidade contra os revolucionários, hostilidade que cresceu no governo do presidente Kennedy, tão louvado pelos que não conhecem bem a raiz quadrada da História. Castigados primeiro pela ocupação direta dos Estados Unidos, amputado o seu território com o enclave na Baía de Guantánamo, que perdura em suas costas como bócio incurável; submetidos ao bloqueio econômico, os cubanos buscaram o apoio soviético. E foi esse apoio, aliado à posição de alguns governos latino-americanos da época, entre eles, de forma firme, o Brasil, que impediu Kennedy e seus sucessores de arrasarem o país e seu povo.
Raúl Castro aceitou negociar com os Estados Unidos, de "igual para igual". Se isso vier a ocorrer, será a primeira vez. Desde que os americanos intervieram na guerra de independência de Cuba e, vencendo a Espanha, ocuparam a ilha, os cubanos são tratados com desdém. Qualquer seja a opinião que tenhamos de seu regime e de seus dirigentes, é admirável sua resistência ao longo de quase meio século. Raúl não se opõe a mandar para os Estados Unidos os dissidentes do regime que se encontram presos e suas famílias, e só exige que cinco cubanos, prisioneiros na Flórida, sob a acusação de espionagem, sejam devolvidos à pátria. Diante disso, será difícil continuar o bloqueio contra a ilha.
De qualquer forma é estranho que os Estados Unidos, que mantêm a prisão de Guantánamo, uma afronta aos princípios elementares de justiça; que confessadamente sequestram e torturam cidadãos estrangeiros; que invadiram o Iraque e patrocinaram a farsa do julgamento e a oprobriosa execução de Saddam Hussein, falem de respeito aos direitos humanos em Cuba.
Resta saber se eles, sob Obama, estão decididos a respeitar a soberania de Cuba, nas negociações que se articulam, ou desejam simplesmente restaurar a democracia dos tempos de Gerardo Machado e Fulgêncio Batista, seus fiéis vassalos.

Prof. Roberto Sérgio(robertosociologo@hotmail.com)

O Socialismo possível

O ponto central dessas linhas é a minha convicção de que não existe socialismo sem democracia, nem democracia sem socialismo. O que conseguimos até hoje foi o socialismo possível, dentro de um quadro adverso a prática socialista.
Todas as experiências socialistas que o mundo conheceu, tem ocorrido em conjunturas adversas a uma prática plena da teoria socialista. Mesmo na antiga União Soviética, primeiro país a implantar o socialismo, resultado de uma revolução, as condições adversas impediram que o sistema funcionasse plenamente, principalmente no que se refere às liberdades de expressão, de opinião e a liberdade política.
Ocorreram avanços sociais inegáveis na Rússia, o país saiu de uma situação semifeudal, de atraso, de fome e de muita exploração da classe trabalhadora, para, em menos de 30 anos transforma-se em uma das grandes potências do mundo, oferecendo a toda população soviética, acesso a educação, a cultura, ao esporte e ao lazer.
Mas, diante do isolamento da União Soviética (era o único país socialista) a questão que é basilar para o socialismo, as liberdades democráticas, foi relegada a um segundo plano. Tudo em nome da segurança do país e do regime, justificativa essa de certa forma correta. Existia uma guerra contra o socialismo, como ainda hoje existe. Uma guerra violenta e suja. Os sistemas de informação e contra-informação do mundo capitalista funcionavam a todo vapor, financiando os contras, procurando de toda forma desestabilizar o regime soviético e após a segunda grande guerra, os demais regimes socialistas espalhado por diversos continentes.
Diante desse contexto, a prática de limitar as liberdades democráticas, terminou prevalecendo em todos os países socialistas, tanto nos países que se tornaram socialistas, fruto da guerra contra o nazismo (os países do leste europeu) como nos países que implantaram o socialismo resultado de suas revoluções populares, no caso, a China e Cuba. Os países que tentaram a implantação do socialismo com as liberdades democráticas garantidas, foram golpeados pela força da CIA, no caso, o Chile e a Nicarágua, eram governos socialistas eleitos pelo povo, derrubados pela direita golpista com o apoio e o financiamento dos Estados Unidos.
Ignácio Ramonet no seu livro “Fidel Castro, biografia a duas vozes”, editora Boitempo – SP, 2006, na introdução, falando sobre o regime cubano, disse: “Como reação as constantes agressões vindas de fora, o regime cubano preconiza no interior do país a união plena. Mantém o princípio do partido único e tende a punir com severidade as discrepâncias, aplicando a sua maneira o velho lema de Santo Inácio de Loyola: “Em uma fortaleza sitiada, toda dissidência é traição”. Por isso, os relatórios anuais da Anistia Internacional criticam a atitude das autoridades em matéria de liberdade (liberdade de expressão, liberdade de opinião, liberdade políticas)”. Cuba é uma fortaleza sitiada, sofre constantemente ataques dos agentes da CIA e dos seus asseclas cubanos, sem contar que existem emissoras de rádio e televisão ianques transmitindo diariamente para o território cubano uma massiva propaganda contra o socialismo.
A idéia de socialismo, para nos socialistas, é indissociável da idéia de democracia e de humanismo. Na revista Socialismo & Democracia está escrito “Não há nem pode haver verdadeiro socialismo sem democracia, nem verdadeira democracia sem socialismo”. O que temos, hoje, é o socialismo possível, atendendo as necessidades básicas do ser humano. Solidário e internacionalista, lutando pela justiça social e por um mundo de paz e prosperidade, desejando implantar o socialismo na sua forma plena. Lênin já dizia: “O socialismo vitorioso deve necessariamente instaurar uma democracia integral”. O nosso desejo é esse, mas, até hoje não nos foi permitido.
por Antônio Capistrano - filiado ao PCdoB