BRASÍLIA
(Reuters) - O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal
(STF), arquivou na noite de segunda-feira o pedido feito por partidos políticos
para que o telefone celular do presidente Jair Bolsonaro fosse apreendido no
âmbito do inquérito que investiga se ele tentou interferir politicamente na
Polícia Federal, e fez um alerta ao presidente de que descumprir ordens
judiciais implica em crime de responsabilidade.
O pedido havia sido feito por
partidos políticos e Celso de Mello concordou com a manifestação do
procurador-geral da República, Augusto Aras, de que cabe ao Ministério Público
pedir diligências dentro de uma investigação e que legendas partidárias não têm
legitimidade para fazê-lo.
“Não conheço da postulação
formulada nos presentes autos, restando prejudicado, em consequência, o exame
do pedido deduzido na petição”, decidiu o ministro.
Celso de Mello, o decano do STF
que se aposentará compulsoriamente ao completar 75 anos em novembro, citou
declarações de Bolsonaro de que não entregaria seu telefone celular caso a
Justiça assim determinasse e alertou contra o descumprimento de ordem judicial.
“Notícias divulgadas pelos
meios de comunicação social revelaram que o presidente da República
ter-se-ia manifestado no sentido de não cumprir e de não se submeter a
eventual ordem desta Corte Suprema que determinasse a apreensão cautelar do
seu aparelho celular, muito embora sequer houvesse, naquele momento, qualquer
decisão nesse sentido, mas simples despacho de encaminhamento dos autos... ao
eminente senhor procurador-geral da República”, afirmou o ministro.
“Tal insólita ameaça de
desrespeito a eventual ordem judicial emanada de autoridade judiciária competente,
de todo inadmissível na perspectiva do princípio constitucional da
separação de Poderes, se efetivamente cumprida, configuraria gravíssimo
comportamento transgressor, por parte do presidente da República, da
autoridade e da supremacia da Constituição Federal.”
O encaminhamento do pedido de
apreensão do celular de Bolsonaro, que também incluía solicitação para que o
telefone do vereador no Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) também
tivesse o equipamento apreendido, gerou irritação no presidente e levou o
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto
Heleno, a divulgar nota em que considerou o pedido inconcebível e disse que se
fosse atendido teria consequências imprevisíveis à estabilidade do país.
Ao decidir pelo arquivamento do
pedido sem manifestar o mérito, Celso de Mello disse que eventual
descumprimento de ordem judicial pelo presidente implica em crime de
responsabilidade, que pode levar a um impeachment.
“É tão grave a inexecução
de decisão judicial por qualquer dos Poderes da República (ou por qualquer
cidadão) que, tratando-se do chefe de Estado, essa conduta presidencial
configura crime de responsabilidade, segundo prescreve o art. 85, inciso VII,
de nossa Carta Política, que define, como tal, o ato do chefe do Poder
Executivo da União que atentar contra ‘o cumprimento das leis e das decisões
judiciais’”, alertou o ministro.
fonte: 247
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