Nos anos
70, Kenneth Cooper revolucionou o mundo esportivo dizendo que o meio-termo
entre a caminhada e a corrida era o segredo da saúde. Na virada do século, todo
mundo apertou o passo e passou a correr, literalmente, atrás da qualidade de
vida. Agora, médicos pedem calma e indicam a caminhada como fonte da juventude.
Só que,
atenção: caminhar é caminhar, não é passear.
O hábito
de andar regularmente --e rapidamente-- a seis quilômetros por hora está ligado
à melhora na circulação sanguínea e nos níveis de colesterol, à prevenção de
doenças cardíacas, diabetes e alergias e até à redução da incidência de alguns
tipos de câncer, mostram pesquisas.
Mas muita
gente pensa que andar é exercício para velhos, convalescentes. Não é. Assim
como a corrida não é para todos e está longe de ser "democrática",
como entusiastas gostam de repetir.
"Há
preconceito em relação aos caminhantes, porque vivemos em um mundo no qual o
desempenho é colocado acima até da saúde. Quem vive em um ritmo alucinado de
treinos, sem acompanhamento, está sujeito a lesões inerentes à corrida, além de
ficar estressado por carregar o peso de sempre estar no pico de sua
performance. É desgastante", afirma José Rubens D'Elia, educador físico e
fisiologista do exercício.
Andar é
bom, correr também. Depende do objetivo e do praticante. Para quem quer sair do
sedentarismo sem muitos sacrifícios, prevenir doenças e aproveitar o percurso,
caminhar é ótimo.
Para
colher benefícios, no entanto, o caminhante deve estar atento à intensidade do
esforço. É preciso andar rápido, não vale bancar a tartaruga --tendência da
maioria.
Pesquisa
feita com caminhantes em três parques de São Paulo pelo Centro Universitário
Ítalo-Brasileiro mostrou que a maior parte não empregava a força necessária
para usufruir dos efeitos da caminhada.
O
coordenador da pesquisa, Vitor Tessutti, lembra que a atividade será ineficaz
se for feita a passos vagos. "Dessa forma será gerado um estímulo débil no
organismo, que não causará adaptação muscular e cardiovascular e não melhorará
o condicionamento", diz ele, formado em esportes e mestre em ciência da
reabilitação pela USP.
Quem
pretende alcançar condicionamento físico em um período mais curto vai preferir
a corrida. Em relação à caminhada, porém, os riscos de lesão são maiores.
Pesquisa
com 574 atletas, publicada no "British Journal of Sports Medicine" em
2007, mostrou que 92% dos corredores estavam machucados. Segundo Tessutti, o
risco pode ser reduzido com acompanhamento e treino certo.
LESÃO E
ALEGRIA
Correr,
evidentemente, é mais eficaz e rápido para quem quer perder peso.
"Perdi
os 30 quilos que ganhei na gravidez correndo. No começo, fazia esteira. Depois,
fui para a rua e não parei mais", conta a produtora de moda Paula Narvaez,
29.
Ela sabe
bem os males da atividade: "Correr dá barato, vicia, machuca, cedo ou
tarde. Só que também traz alegria, deixa o corpo bonito, manda embora o
estresse, une pessoas de todos os tipos e classes e isso atropela os contras da
corrida, como bolhas nos pés, unhas que caem, mamilos machucados".
Mulheres
que correm podem machucar não apenas os seios. De acordo com Paulo Zogaib,
médico do esporte e fisiologista da Unifesp, há casos de incontinência urinária
causados pelo impacto da corrida. "A uretra da mulher é muito menor que a
do homem. Se há uma pressão aumentada na bexiga, esse órgão não consegue conter
a urina", diz.
O PRÓXIMO
PASSO
Em
compensação, na corrida o praticante tem mais benefícios aeróbicos em menos
tempo. Há quem diga até que a corrida é o passo seguinte à caminhada. "O
melhor condicionamento físico e o trabalho mais forte dos membros superiores
são as maiores vantagens da corrida", opina Marcos Paulo Reis,
especialista em tirar sedentários do sofá e colocá-los para correr.
No
entanto, o impacto de correr pode prejudicar as articulações. Para quem está
acima do peso, as chances de lesão no aparelho locomotor são de 80%, conforme
Reis.
"Eu
era corredora, fazia provas de dez quilômetros. Hoje, caminho. Acho mais
eficiente para manter meu peso e meu condicionamento", depõe a
nutricionista Nicole Odenheimer Trevisan, 41.
Ela, que
se diz perfeccionista, conta que quando corria se sentia obrigada a seguir
planilhas e atingir metas. "Caminhando, me sinto liberta da pressão por
resultados."
Foi
caminhando que a treinadora e especialista em fisiologia do exercício Camila
Hirsch completou, 15 anos atrás, a maratona de Nova York. Em um grupo de cinco
pessoas, fez 42 quilômetros em 6 horas e 31 minutos (equivale a um ritmo de 6,9
quilômetros por hora na esteira).
"Três
pessoas do grupo não podiam correr por questões de saúde, mas o resto caminhou
por opção. Foi incrível. Cumprir caminhando uma prova cujo objetivo é correr
foi uma adaptação e uma quebra de barreiras", diz.
Para a
treinadora, os efeitos da caminhada "são exatamente os mesmos" da
corrida. "O trabalho nos glúteos é até mais forte, porque as pisadas são
de calcanhar e a sobrecarga fica mais concentrada na região do quadril."
O
problema, diz Camila, é a monotonia. Geralmente, os caminhantes realizam a
mesma carga de exercício. A saída é alternar dias de caminhadas mais aceleradas
e outros com ritmo mais lento, alternando também lugares íngremes e regiões
planas.
"A
caminhada precisa ter esse tipo de renovação. Se não houver intensidade, o
benefício de emagrecimento vai diminuir aos poucos, como também o ganho de
massa muscular."
Fonte: UOL
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