Educação pública de qualidade se faz com profissionais valorizados. Hoje é dia de pressionar para que deputados/as retirem o item VII da Ordem do Dia da Câmara dos Deputados, agendada para 29 de julho. A proposta pretende alterar o parágrafo único do art. 5º da Lei do Piso do Magistério (Lei 11.738) e estabelecer o INPC/IBGE como único critério de correção do piso salarial dos/as professores/as da educação básica. Vamos nos mobilizar e impedir esse retrocesso!
terça-feira, 28 de julho de 2020
segunda-feira, 27 de julho de 2020
SINTE/RN ganha ação no STF obrigando Estado a pagar atrasados do Governo Robinson Farias
O
SINTE/RN ganhou definitivamente a Ação que exigia o pagamento dos salários que
não foram pagos no Governo Robinson Faria. A vitória no Supremo Tribunal
Federal (STF) garante também a correção monetária de todos atrasados de
2016 a 2020.
Em 2016,
logo que o Robinson Farias começou a atrasar o pagamento dos trabalhadores em
educação, o SINTE/RN ingressou com um Mandado de Segurança Coletivo, exigindo
do Governo o cumprimento da Constituição do Estado, que determina o
pagamento da folha salarial até o último dia de cada mês.
Apesar
de a Justiça ter dado ganho de causa ao Sindicato, o Governo Robinson recorreu
ao STF pedindo a suspensão do cumprimento da Ação, bem como de várias Ações
coletivas de outros sindicatos do Estado. A ministra Carmem Lúcia acatou o
pedido, impedindo que o Sindicato pudesse proceder a execução que
possibilitaria o pagamento da Ação.
Segundo
o assessor jurídico do SINTE, Carlos Gondim, o recebimento está garantido mas
não é imediato. Com a Ação transitada em julgado, não há mais possibilidade de
recurso jurídico para o Estado e o SINTE vai agora proceder sua execução,
para que a categoria possa receber o seu direito. O Sindicato fará os cálculos
incluindo os salários não pagos até hoje e a atualização dos salários pagos com
atraso.
“A
prioridade será a execução dos trabalhadores em educação aposentados por serem
os maiores prejudicados. Em breve iremos divulgar a documentação necessária a
ser enviada para o Sindicato a fim de possibilitar os cálculos e protocolo da
execução,” explica Gondim.
A
coordenadora geral do SINTE/RN, professora Fátima Cardoso, comemorou a vitória:
“Muito importante essa conquista. Sempre priorizamos a luta política, devido ao
desfecho mais rápido. Mas quando é necessário, recorremos a esse instrumento
fundamental da luta, que é o Jurídico. Para nossa alegria, temos colecionado
conquistas históricas. Essa é uma delas”, concluiu.
FONTE: SINTE/RN
terça-feira, 14 de julho de 2020
Sem mobilização urgente da sociedade, SUS terá menos recursos em 2021
Orçamento do SUS pode piorar em 2021. Oposição quer evitar
O orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) para o ano que vem será decidido em agosto, quando, segundo prática de períodos anteriores, deve ir a voto na Câmara a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) encaminhada pelo governo federal.
Se depender de Paulo Guedes, ministro da Economia, e de seu chefe, o presidente da República, com a provável ajuda do chamado Centrão, o SUS vai ter ainda menos recursos em 2021.
Especialistas do setor e parlamentares da oposição preparam-se para essa briga e tentam imaginar maneiras de conquistar a população para a tarefa de defender o sistema de saúde pública.
O governo quer manter em vigor no próximo ano as regras da emenda constitucional 95 e ainda retirar os créditos adicionais que foram aprovados recentemente pelo Congresso para enfrentar a atual pandemia.
Se isso acontecer, em 2021 o orçamento voltará a exibir cifras parecidas às que teve em 2017, ano em que a EC 95 começou a valer, estabelecendo o congelamento por 20 anos das despesas em políticas públicas.
As estimativas mais cautelosas apontam que isso vai retirar do SUS 35 bilhões de reais, na comparação com o orçamento atual.
Se somadas as perdas acumuladas desde que a emenda constitucional passou a vigorar, o buraco no orçamento da saúde pública será ainda maior. Só em 2019, foram retirados 22,5 bilhões de reais do SUS por causa da emenda 95.
Na opinião de especialistas e de parlamentares, é preciso gerar uma mobilização urgente para impedir que mais retrocessos aconteçam.
Propostas para evitar o desastre já estão na mesa. Em recente debate promovido pela tvPT, algumas ideias foram lançadas.
Um real a mais por dia
Combinação de dados orçamentários e estratégia de comunicação popular, uma dessas propostas é lançar uma campanha cujo tema seria “um real a mais por dia para o SUS”.
O investimento atual do SUS é de 3,60 por dia para cada brasileiro e brasileira.
“Vamos divulgar essa informação e estabelecer uma meta de aumento desse investimento”, sugeriu o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP), que também é médico.
“O sistema faz muito e com poucos recursos”, avalia Francisco Funcia, especialista em economia da saúde e do SUS, professor da Universidade Municipal de São Caetano.
“Quando você pega um ônibus, gasta mais que isso com uma passagem”, diz Funcia.
O economista projeta o resultado desse aumento:
“Se a gente fizesse uma campanha de 1 real a mais por dia per capita, isso daria 73 bilhões de reais adicionais no sistema por ano. A gente sabe que o que o governo gasta em atenção básica é 28 bilhões por ano. O programa Mais Médicos, inclusive com carreira única do estado para todos os trabalhadores, com todos os encargos trabalhistas, ficaria em 7 bilhões de reais o programa todo. 1 real a mais por dia daria 10 vezes o programa Mais Médicos”.
Incorporação dos créditos extras
Outra proposta emergencial de consenso foi apresentada: estabelecer um piso de investimento no SUS que incorpore para o próximo ano as verbas extras aprovadas no contexto da pandemia de Covid-19.
A medida representaria algo em torno de 30 a 35 bilhões de reais, segundo o economista Carlos Ocké, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e vice-presidente da Associação Brasileira de Economia da Saúde).
Esse aporte pode minimizar em parte as perdas acumuladas desde 2017. A incorporação desses créditos suplementares pode ajudar também a fazer frente aos desafios que se manterão em 2021.
Ao contrário do que se possa imaginar, depois da pandemia as despesas do SUS não vão diminuir. Afinal, a população continuará aumentando, e o congelamento das verbas imposto pela emenda 95 não dá conta desse crescimento populacional.
Acrescente-se a isso o fato de que as perdas nos anos anteriores já comprimiram o orçamento.
Calcule-se também que os procedimentos represados durante a pandemia – cirurgias eletivas, exames suplementares e de rotina adiados em função da crise sanitária, por exemplo – precisarão ser atendidos quando a pandemia arrefecer.
Além disso, o uso intenso dos equipamentos do SUS durante a coronacrise vai certamente exigir manutenção e até mesmo substituição de aparelhos nos próximos meses.
Com a já conhecida falta de medicamentos, de equipamentos de proteção e de trabalhadores e trabalhadoras especializados em número suficiente, um orçamento igual ao de 2017 será trágico para o SUS e para os 75% da população brasileira que, segundo estatísticas oficiais, dependem integralmente do sistema para cuidar de sua saúde.
Por isso, além da incorporação das verbas extras, outra proposta é que os 22, 5 bilhões que foram retirados do SUS em 2019 retornem ao orçamento no ano que vem.
No entanto, é previsível que o Ministério da Economia e os defensores da política de austeridade fiscal vão sacar o mesmo velho argumento que tem sido brandido ao longo de anos: não existe dinheiro, de onde vamos tirar recursos?
O dinheiro existe
“Há uma farsa de que não há mais investimento no SUS porque o Brasil estaria quebrado. Não se trata disso: o país tem mais de 1 trilhão de reais na conta única do Tesouro. Só o lucro da equalização cambial das reservas deixadas pelos governos do PT já soma mais de 500 bilhões de reais”, aponta o economista e sociólogo Bruno Moretti, assessor da bancada do PT no Senado.
O deputado Arlindo Chinaglia relembra algumas distorções do uso de recursos que afetam o Brasil e escondem dinheiro que existe, mas é usado para favorecer minorias já endinheiradas.
“No Brasil, as classes mais abastadas não pagam imposto quando recebem lucros e dividendos das empresas em que têm ações: isso daria 50 bilhões de reais a mais por ano. Temos uma sonegação de impostos por parte de empresas que soma pelo menos 500 bilhões por ano. Se a gente conseguisse que eles sonegassem apenas 80% disso, teríamos 100 bilhões a mais por ano. Temos ainda as desonerações, nós somos a terra do Refis (Programa de Recuperação Fiscal). É um escândalo”.
Francisco Funcia corrobora o raciocínio de Chinaglia e estima que, apenas em isenções fiscais, o Brasil deixa de arrecadar algo em torno de 300 bilhões de reais por ano.
Governo esconde verbas
No caso específico do SUS, além do subfinanciamento e do desfinanciamento – termo cunhado por economistas para definir os efeitos da EC 95 – há o agravante de o governo federal represar os recursos existentes e cuja utilização foi autorizada pelo Congresso Nacional.
O dinheiro, se pouco é, ainda fica retido em Brasília, sob as chaves do ministro Paulo Guedes.
Moretti denuncia:
“Na pandemia, tivemos uma demonstração de que o problema não é falta de dinheiro, e sim as regras fiscais que impedem a aplicação em programas sociais. O Congresso, ao suspender essas regras especificamente para o período da pandemia, fez os recursos aumentarem. Mas, por outro lado, esses recursos não estão sendo aplicados. Temos um valor muito baixo sendo pago, algo em torno de 10% do que foi autorizado para compra de insumos e equipamentos para a saúde”.
Funcia completa:
“O cachimbo entorta a boca. O governo e o seu ministro Guedes continuam praticando em certa medida a austeridade fiscal, ainda que tenham recebido autorização para expansão dos gastos. Temos, do total de todos os orçamentos, 330 bilhões, 340 bilhões de reais, só foi pago até agora um pouco menos de 130 bilhões de reais. E se olharmos a saúde especificamente, desde o fim de janeiro, quando já se sabia que a pandemia exigiria coordenação de esforços, dois terços do orçamento não foram utilizados até agora”.
Carlos Ocké vai além. “Bolsonaro e Guedes são responsáveis, pesam sobre seus ombros as mortes evitáveis da pandemia do coronavírus. Têm nome os responsáveis por estas mortes. Isso que eles estão fazendo é uma escolha”, afirma.
“Isso é o genocídio”, diz Chinaglia, ao destacar a falta de liberação de verbas existentes para o combate à covid-19.
Por fim, há ainda os restos a pagar, sobras não utilizadas em anos anteriores e que continuam longe da rede de saúde pública, num total de 20 bilhões de reais, destaca Funcia.
Luta no Congresso
A votação da LDO apresentada pelo governo, que se dará em agosto, é uma etapa dessa luta.
Além das alterações emergenciais apontadas pelos especialistas, há mudanças de fôlego que precisam ser aprovadas e novos riscos no horizonte a ser combatidos.
A principal mudança é a derrubada da regra do teto de gastos implementada pela EC 95.
Isso só poderá ser feito por intermédio de proposta de emenda constitucional (PEC).
“Mesmo que aprovemos mudanças que aumentem a arrecadação, como o imposto sobre grandes fortunas, a manutenção da emenda 95 funciona como uma bola de ferro presa aos pés”, alerta Carlos Ocké.
O economista Francisco Funcia destaca que, talvez, melhor do que elaborar uma nova proposta de emenda, a alternativa para derrubar o texto de gastos pode ser a PEC 01/2015, que já foi aprovada em primeiro turno na Câmara.
Apresentada por sugestão do Conselho Nacional de Saúde e apoiada por mais de 2 milhões de assinaturas auditadas, essa proposta teria trâmite mais fácil, na opinião do especialista.
Chinaglia chama a atenção para outra armadilha que tramita no Senado, na forma do projeto de lei complementar de número 137.
A proposta pretende extinguir todos os fundos – incluído o fundo social que reserva para a saúde pública 25% dos lucros da extração de petróleo pré-sal – e alocar o montante dos recursos neles depositados sob a caneta do ministro da Economia.
O deputado estima que as verbas para a saúde alocadas nestes fundos somem 200 bilhões de reais anuais.
Elites conservadoras lutam por ''valores'' inventados para justificar a escravidão
Ao longo de sua história, os EUA tiveram duas elites dominantes muito diferentes, motivadas por definições muito diferentes de liberdade. Vamos chamá-las de New England Yankees x Old South Planters. Suas definições radicalmente diferentes de "liberdade" ainda hoje dividem progressistas e conservadores.
As elites ricas não são todas iguais, e as diferenças entre elas são cruciais. Na opinião da elite ianque da Nova Inglaterra, as pessoas com dinheiro e poder devem moderar seus instintos predatórios com um código de conduta chamado de "noblesse oblige". Nesta visão, a liberdade da elite endinheirada é restringida por um dever moral de usar a riqueza e o poder, pelo menos em parte, para a melhoria da sociedade. (“Não pergunte o que seu país pode fazer por você - pergunte o que você pode fazer por seu país”, disse o Presidente John Kennedy em 1961.) Espera-se que os indivíduos equilibrem sua liberdade e desejos pessoais com o bem maior da sociedade em geral. Todos fazem parte de uma comunidade e, portanto, devem pagar impostos, educar os jovens, cuidar dos doentes e cuidar dos necessitados.
Na visão dos ianques, a comunidade (agindo através do governo) deve disponibilizar a todos a liberdade que advém de uma vida estável e próspera. Como o presidente Franklin Roosevelt disse em 1944, "a verdadeira liberdade individual não pode existir sem segurança econômica e independência". Hoje, essa visão ianque da liberdade ordenada está na raiz dos valores progressistas.
Em oposição à visão ianque da liberdade, temos a visão do Old South Planter. Como aprendemos com as “Nações Americanas” de Colin Woodard, a elite das plantations do velho Sul eram filhos e netos dos colonizadores de Barbados, que eles transformaram “na sociedade mais rica e horripilante do mundo de língua inglesa”. A cultura de plantation que eles criaram da Carolina do Sul até o Texas “era uma cópia quase idêntica do estado escravista das Índias Ocidentais que esses barbadianos haviam deixado para trás, um lugar notório até então por sua desumanidade… Desde o início, a cultura Sulista Profunda foi baseada em disparidades radicais de riqueza e poder, com uma pequena elite exigindo total obediência e reforçando-a com terror patrocinado pelo Estado”, escreve Woodward.
Seguindo o importante pequeno livro de Michael Lind, "Made in Texas: George W. Bush and the Southern Takeover of American Politics" [Feito no Texas: George W. Bush e a tomada da política norte-americana pelos sulistas], Sara Robinson explorou esse assunto em 2012. Robinson resumiu assim a visão de liberdade do Old South Plantter:
“No velho sul ... Quanto maia alto seu status, mais autoridade você tinha e mais ‘liberdade’ você poderia exercer - o que significava, em termos práticos, que você tinha o direito de tomar mais ‘liberdades’ com as vidas, os direitos e a propriedade de outras pessoas … Nesse modelo, é isso que é a liberdade. Se você não tem a liberdade de estuprar, espancar, torturar, matar, escravizar ou explorar seus subordinados (incluindo sua esposa e filhos) com impunidade … então você não pode realmente se chamar de homem livre.
A história da dinâmica política da elite nos Estados Unidos pode ser vista como uma luta pelo poder entre essas duas visões da liberdade - liberdade limitada por obrigações à comunidade versus liberdade de explorar os seres humanos e a natureza para obter ganhos pessoais com um mínimo ou nenhum impedimento.
Mais uma vez, nos encontramos nas garras da mentalidade de plantation do Velho Sul estendida por todo o país.
A partir da década de 1950, a visão de liberdade do Velho Sul tomou predominou nos movimentos conservadores, que então partiram para assumir o controle do Partido Republicano e, através da supressão de eleitores, ganhar domínio político permanente.
De acordo com George Lakoff, um linguista agora aposentado da Universidade da Califórnia em Berkeley, os conservadores do movimento acreditam que,
“A ideia básica em termos de economia é que a democracia dá às pessoas a liberdade de buscar seus próprios interesses e seu próprio bem-estar sem se preocupar ou ser responsáveis pelo bem-estar ou interesse de qualquer outra pessoa. Portanto, eles dizem que todo mundo tem responsabilidade individual, não social, portanto você está por sua própria conta. Se você faz isso é maravilhoso. É disso que se trata o mercado. Se você não conseguir, o problema é seu.”
Em sua história indispensável, Democracy in Chains, a historiadora da Universidade Duke, Nancy MacLean, documenta “o plano furtivo da direita radical para a América” - um plano que surgiu na Virgínia na década de 1950 para retornar os EUA à visão de liberdade do Velho Sul, ou, como poderíamos dizer hoje, para "Tornar a América grande novamente" [Make America Great Again, o lema de campanha de Trump]. Como aprendemos com o Dark Money: The Hidden History of the Billionaires Behind the Rise of the Radical Right [Doações não identificadas: a história oculta de bilionários por trás do avanço da direita radical], na década de 1970, um pequeno grupo de conservadores super-ricos da extrema-direita estava construindo o mecanismo político e cultural para assumir o controle.
Em seu novo livro esclarecedor, How the South Won the Civil War [Como o Sul venceu a Guerra Civil], Heather Cox Richardson detalha como, depois da Guerra Civil, a filosofia escravocrata do Velho Sul se espalhou para o oeste, apagando a ideia de que o governo deveria proteger os cidadãos mais vulneráveis da nação e regular a economia. "Convencidos de que só eles deveriam governar", os descendentes filosóficos da elite do Velho Sul "decidiram destruir a democracia", escreve Richardson.
A visão do sul da "liberdade" tornou-se personificada à imagem do caubói violento, independente e rápido no gatilho. Barry Goldwater, Ronald Reagan e George W. Bush fizeram campanha para presidente usando chapéus de caubói Stetson. Mais uma vez, nos encontramos nas garras da mentalidade de plantation do Velho Sul estendida por todo o país. Os vaqueiros não usam máscaras "maricas" para proteger seus vizinhos de um novo coronavírus, e assim o vírus mortal se espalha.
A visão de liberdade da elite conservadora ajuda a explicar a hostilidade republicana moderna em relação à educação pública, ciência pública, mudança climática, mundo natural, democracia de cada pessoa um voto, assistência médica universal, igualdade de raça, gênero e econômica, responsabilização por crimes de guerra e violência policial, e ao próprio governo.
Mas não precisa de ser assim. Se os progressistas se mobilizarem para retirar o grande capital da política e proteger e aplicar agressivamente “uma pessoa, um voto, sem exceções”, a verdadeira vontade progressista do povo pode prevalecer.
*Publicado originalmente em 'Truthout' | Tradução de César Locatelli
FONTE: CARTA MAIOR - O PORTAL DA ESQUERDA
terça-feira, 7 de julho de 2020
Médico diz que uso de ivermectina no combate à COVID-19 é 'delírio'
Medicamento usado para combater verminoses e
parasitoides, sem obrigatoriedade de receita, ganhou as redes sociais e se
tornou a nova 'febre' nas farmácias
A ivermectina é a bola da vez na
procura desesperada por um medicamento que combata o novo coronavírus no
Brasil. O "milagre" está em todas as redes sociais e já ganhou
anúncios de drogarias e redes farmacêuticas, oferecendo até
descontos. Nos grupos de WhatsApp circulam mensagens de recomendaçã ao
uso do remédio, com o aval, inclusive, de médicos de várias
especialidades. Entretanto, ainda não há comprovação científica de resultados
positivos na luta pelo controle da pandemia.
"Um delírio", classifica o infectologista
e sanitarista Marcelo Araújo Campos, professor do Instituto Federal
de Minas Gerais (IFMG), em Ouro Preto. "Não tem indicação de
utilidade, nada que justifique que o médico deva prescrever e, mais ainda, a
população usar como forma preventiva. É desespero, falta de orientação e de
seriedade de quem deveria ser referência. Por parte da população em geral é
compreensível. Por parte de quem deveria ser referência de lucidez e ciência, é
mau sinal."
O receituário da ivermectina ganhou espaço após a
divulgação de um estudo, desenvolvido em laboratório, "in vitro", que
mostrou capacidade de efeito antiviral contra a COVID-19,
diminuindo a multiplicação do vírus. Porém sem qualquer teste em animais ou
humanos, explica a farmacêutica Aline Mourão, coordenadora do Grupo Técnico de
Farmácia Clínica, do Conselho Regional de Farmácia de Minas
Gerais (CRF-MG).
"Experiências 'in vitro' não comprovam efeito
preventivo ou de tratamento em humanos. A posição do CRF é de não recomendar a
prescrição, já que não há comprovação científica do benefício e ainda pode
colocar a saúde em risco", ressalta Aline Mourão.
A ivermectina é um antiparasitário antigo no mercado, usado sob prescrição no
tratamento de pediculose, escabiose, ascaridíase, filariose, estrongiloidíase
intestinal e oncocercose. Geralmente é prescrito para esses casos em dose
única, e em alguns casos repetida uma ou duas semanas depois. Ainda não há
estudos sobre os efeitos de seu uso contínuo.
"É um medicamento que não fixa no organismo.
Depois da dose única ou de repeti-la, ele é eliminado pelas fezes em três dias.
Então, essa dose que vem sendo recomendada é para casos de parasitas e vermes,
não para um tratamento prolongado. Para efeito preventivo, deveria ser de uso
contínuo. Não há qualquer literatura científica que descreva qual a dose máxima
suportada pelo organismo humano", ressalta Aline Mourão.
Cobranças ao Ministério da Saúde
Aline acredita que a desinformação é problema grave e cobra das autoridades
ministeriais uma responsabilidade na divulgação de estudos ainda sem
comprovação.
Marcelo Campos também cobra articulação que
"deveria partir do Ministério da Saúde, reunindo movimentos sociais,
instituições de pesquisa, com olhar multidisciplinar: sociologia, antropologia,
demografia/estatística, saúde, farmácia, direito. E foco em ciência com
controle social. Parar de falar em grupo de risco e avaliar vulnerabilidades
nos seus determinantes sociais, biológicos, psicológicos. A forma como as pandemias atingem
as populações é desigual, caracteriza expressão de violências
estruturais."
Segundo o CRF-MG, a prescrição de medicamentos para
indicações não aprovadas pela Anvisa não é proibida, mas deve
levar em conta "as evidências científicas disponíveis e os potenciais
riscos e benefícios aos pacientes."
Reações adversas potenciais da ivermectina
1.
Cardiovasculares: Hipotensão ortostática
2.
Dermatológicas: Erupções cutâneas, urticária,
prurido. Há relatos de reações como Síndrome de Stevens-Johnson e Necrólise
Epidérmica Tóxica
3.
Gastrintestinais: Náusea, vômito, diarreia, dor
abdominal, constipação
4.
Hepáticas: Hepatite, elevação de enzimas hepáticas
5.
Neurológicas: Convulsões, tontura, confusão,
sonolência
6.
Oftálmicas: Visão borrada, conjuntivite, hemorragia
segunda-feira, 6 de julho de 2020
Câmara aprova texto-base de MP que flexibiliza ano letivo devido à crise do coronavírus
A Câmara dos Deputados aprovou
na última terça-feira (30) o texto-base de uma medida provisória que
estabelece "normas excepcionais" para os sistemas de ensino devido
às medidas de enfrentamento da pandemia do coronavírus.
Entre essas normas, estão a
flexibilização dos dias letivos e a antecipação da formatura para cursos de
graduação da área de saúde (veja mais abaixo).
Outra mudança incluída pela
relatora, deputada Luisa Canziani (PTB-PR), é a determinação de que a data do
Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) seja definida em articulação com os
sistemas estaduais de ensino. Essa alteração não estava prevista no texto
enviado pelo Executivo.
Para concluir a votação, os
deputados ainda precisam analisar os destaques (sugestões de alteração do
texto) — ainda não há data para isso. Após passar pela Câmara, a matéria
seguirá para o Senado.
Pela proposta aprovada pelos
deputados, a suspensão da obrigatoriedade da quantidade mínima de dias letivos
enquanto durar o estado de calamidade pública será dada da seguinte forma:
·
Na educação infantil, fica dispensada a obrigatoriedade do
mínimo de dias letivos e do cumprimento da carga horária mínima anual;
·
Nos ensinos fundamental e médio, fica suspensa somente a
obrigatoriedade da quantidade mínima de dias letivos e mantida a carga horária
mínima no ano;
Pelo texto, o Conselho Nacional
de Educação (CNE) deve editar diretrizes nacionais para implementar essa
suspensão.
A proposta prevê atividades
pedagógicas não presenciais durante o ano letivo afetado, desde que os sistemas
de ensino garantam aos alunos o acesso a essas atividades — como, por exemplo,
o acesso a recursos tecnológicos.
Nesse caso, a União deve prestar
assistência técnica e financeira a estados e municípios para garantir o acesso
dos profissionais da educação e dos alunos às atividades não presenciais.
Além disso, a carga horária
mínima do ano letivo afetado pode ser cumprida no ano seguinte, ainda que o
aluno já esteja cursando a série ou ano escolar seguinte.
00:00/03:48
Ensino
superior
A proposta também dispensa as
instituições de ensino superior da obrigatoriedade de cumprir o mínimo de dias
letivos do calendário acadêmico. Nesse caso, porém, a carga horária anual
mínima deve ser mantida.
Cursos de medicina, farmácia, enfermagem,
fisioterapia e odontologia podem ter a conclusão antecipada pelas instituições,
desde que o aluno cumpra 75% da carga horária do internato ou dos estágios
curriculares obrigatórios.
A relatora incluiu, também, a
possibilidade de antecipar a conclusão dos cursos de educação profissional
técnica de nível médio que tenham alguma relação com o combate à pandemia, com
a mesma condição de cumprimento de 75% dos estágios obrigatórios.
Enem
A deputada incluiu na proposta a
determinação de que as datas de realização do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) sejam definidas em articulação com os sistemas estaduais de ensino.
A prova, prevista inicialmente
para novembro, teve as datas suspensas devido ao avanço da pandemia do novo
coronavírus. O Ministério da Educação ainda não definiu uma nova data para a
realização do exame.
Ao anunciar o adiamento, contudo,
o ministério abriu uma enquete para que os
candidatos opinem sobre a escolha das novas datas.
Em seu parecer, a relatora
afirmou que “muitos parlamentares manifestaram preocupação com as condições de
realização” do Enem em 2020.
Outras
mudanças
·
Ano
suplementar: a
proposta possibilita ao aluno que concluiu o ensino médio em 2020 a matrícula
suplementar de mais um ano de estudo, no ano seguinte, relativo ao ano letivo
prejudicado pela pandemia, desde que haja disponibilidade de vagas na rede
pública;
·
Volta
às aulas: o texto
também prevê que o retorno às atividades escolares deve observar as diretrizes
das autoridades sanitárias e as regras estabelecidas pelo sistema de ensino. A
União também deve oferecer assistência técnica e financeira aos entes federados
para a volta às aulas.
·
Grupo
de risco: no
retorno às aulas, a proposta prevê que alunos de grupo de risco epidemiológico
tenham acesso a atendimento educacional adequado à sua condição, com programas
de apoio de alimentação e de assistência à saúde.
·
Distribuição
de alimentos: os
recursos dos Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) podem ser
distribuídos diretamente aos pais ou responsáveis dos estudantes. O texto
também aumenta para 40% o percentual mínimo de investimentos na compra de
produtos da agricultura familiar nos municípios com menos de 50 mil habitantes;
FONTE: Elisa Clavery, TV Globo — Brasília
quinta-feira, 2 de julho de 2020
Após nomear os piores ministros da história, Bolsonaro vê "educação horrível"
Jair Bolsonaro reconheceu o péssimo estado da educação brasileira depois
de nomear os dois piores ministros da história, Abraham Weintraub e Vélez
Rodriguez, e de indicar um outro nome, Carlos Decotelli, que tinha falhas no
currículo
247 - Após a passagem de três ministros em um ano e meio de governo, Jair
Bolsonaro admitiu que a situação da educação no Brasil é “horrível”. Ainda
segundo ele, o novo titular da pasta poderá ser escolhido ainda nesta
quinta-feira (2). "Está definhando? A educação está horrível no
Brasil", disse Bolsonaro após ser questionado se o sistema educacional
estava "definhando".
O ministério da Educação está sem comando desde a demissão de Carlos
Alberto Decotelli, na última terça-feira (30). Antes dele, que nem chegou a
tomar posse do cargo por inconsistências no
currículo, a pasta havia tido como ministros Abraham Weintraub e Vélez
Rodriguez, que tentaram imprimir um viés ideológico à área de educação.
A declaração de Bolsonaro foi feita nesta quinta-feira (2) em uma
conversa com apoiadores na entrada do Palácio do Planalto. Segundo ele,
Decotelli “deu problema” e sua nomeação para a pasta foi cancelada.
"Talvez eu escolha hoje o ministro da Educação", disse sem
fazer referência a quem pode ocupar o ministério.
FONTE: 247
FHC é quem lidera a destruição do Brasil
“Qualquer proposta
democrática encampada por FHC perde completamente o sentido. Bolsonaro e FHC
são parte do mesmo processo. Um é a consequência do outro”, diz o jornalista
Leonardo Attuch, editor do 247"
Quem liderou a
conspiração contra a ex-presidente Dilma Rousseff: Fernando Henrique Cardoso ou
Jair Bolsonaro? Quem ajudou a criar o ambiente político e midiático pela
cassação dos direitos políticos do ex-presidente Lula: FHC ou Bolsonaro? Quem
montou a agenda econômica da “ponte para o futuro”: FHC ou Bolsonaro? Quem
indicou Pedro Parente para a presidência da Petrobrás, iniciando o processo de
desmonte da estatal: FHC ou Bolsonaro?
A resposta para todas essas questões é a opção A. Depois de quatro
derrotas consecutivas em eleições presidenciais, duas para Lula e duas para
Dilma, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é quem organiza o
discurso e as ações da oligarquia nacional, liberou seu peão Aécio Neves para
desestabilizar a democracia brasileira, em aliança com o deputado Eduardo
Cunha. Os resultados são conhecidos: quatro anos de estagnação econômica e a
destruição da imagem internacional do Brasil.
Não surpreende,
portanto, que FHC tenha feito na noite de ontem, em entrevista à CNN, mais uma
defesa do “Fica, Bolsonaro”. Mais do que isso, ele também admitiu ter anulado o
voto em 2018, dando cobertura emocional e ideológica para todos aqueles que,
entre um professor universitário e um extremista de direita, optaram pela
segunda opção.
Na prática, FHC é o
verdadeiro pai do bolsonarismo, porque foi ele quem liderou a quebra do pacto
democrático de 1988. Por isso, qualquer proposta democrática encampada por FHC
perde completamente o sentido. Bolsonaro e FHC são parte do mesmo processo. Um
é a consequência do outro.
FONTE: 247
terça-feira, 30 de junho de 2020
VITÓRIA DA CULTURA: SANCIONADA A LEI ALDIR BLANC!!!✅
Em informação repassada à Deputada Federal Jandira Feghali, o Ministro do Turismo, Marcelo Antônio, garantiu que a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc será sancionada HOJE pelo presidente da República! O texto deverá ser sancionado quase na íntegra, com pequenas alterações relacionadas aos prazos de execução.
Uma conquista construída a muitas mãos, em uma grande teia que uniu todo o país! Foram centenas de manifestações, lives, mensagens, encontros, reuniões virtuais, petições, tuitaços, abaixo assinados, web conferências, debates e pedidos pela aprovação e sanção. E o dia chegou!
Cumprida esta etapa, começa outro grande desafio: a liberação e execução dos recursos financeiros previstos na Lei Aldir Blanc, que serão executados de forma descentralizada por estados e municípios, em caráter emergencial. Estes recursos precisam chegar na ponta com rapidez, critério, eficiência e transparência, atendendo aos que mais precisam, diminuindo os impactos econômicos na cadeia produtiva do setor cultural e fortalecendo os mecanismos de gestão e participação do Sistema Nacional de Cultura.
A esperança equilibrista atravessou a corda bamba! A cultura brasileira segue em frente, pois sabe que o show de todo artista tem que continuar!
Viva a Lei Aldir Blanc!
#AldirBlancAgoraéLei
Saudações Culturais!
Articulação Nacional de Emergência
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LULA no twitter
Sairia muito mais barato se o governo tivesse colocado dinheiro na mão dos microempreendedores. Sem ajuda, eles vão quebrar e trazer mais prejuízo. O modelo Pinochet tá gravado na cabeça do Guedes e ele não consegue pensar fora desse roteiro de destruição do Estado.
Gleisi Hoffmann no twitter
Bolsonaro conseguiu a proeza de ser o primeiro presidente do mundo a ter uma indicação ao Banco Mundial alvo de repúdio formal pela Associação de funcionários do Banco. Em carta, eles exigem a suspensão da indicação de Weintraub. A reputação internacional do Brasil está na lama.
segunda-feira, 29 de junho de 2020
LULA PELO TWITTER
Quando vejo quantas vidas
foram salvas na Argentina, me dói muito ver meu próprio país desgovernado, com
ministros incapazes de agir para proteger nosso povo e um presidente da
República que chega a fazer piada com a tragédia.
Decotelli não obteve pós-doutorado na Alemanha, diz Universidade.
O ministro da Educação Carlos Alberto Decotelli da Silva não obteve pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha, ao contrário do que consta em seu currícullo Lattes. A informação foi dada pela assessoria de imprensa da própria universidade a pedido da coluna. Eis a resposta completa da universidade alemã: "Carlos Decotelli veio para a cadeira da profa. Dra Brigitte Wolf para uma pesquisa de três meses em 2 de janeiro de 2016. Até 2017 ela era professora de teoria do design, com foco em metodologia, planejamento e estratégia na Universidade de Wuppertal e agora é emérita. Ele não adquiriu nenhum título em nossa universidade. Afirma a Universidade.
Ele num tem Doutorado na Argentina e tá sendo acusado de plágio no mestrado, daqui a pouco num é nem graduado, kkkk.
Pandemia acelerou a corrosão de Bolsonaro aos olhos da classe média, diz Jessé Souza
O sociólogo e professor universitário Jessé Souza conversou com a TV 247 e afirmou que a pandemia de coronavírus acelerou a deterioração da imagem de Jair Bolsonaro perante o olhar da classe média brasileira.
De acordo com Jessé Souza, a desgraça na qual o Brasil desembocaria em alguns anos em consequência das políticas econômicas neoliberais foi adiantada pela Covid-19. “Para as pessoas perceberem a bobagem que foi votar em um cara como o Bolsonaro iria levar uns quatro, cinco anos, até o País chegar em completa desgraça. A pandemia, na minha opinião, tornou essas coisas mais rápidas, ela mostrou, por exemplo, à classe média brasileira, que é uma classe que tem mais acesso à informação, teve mil privilégios de acesso ao conhecimento, e essa classe média percebeu muito rapidamente a bobagem que foi eleger o Bolsonaro, um cara completamente despreparado. Lembro que lá no meu bairro as pessoas que batiam panela pelo impeachment [da ex-presidente Dilma Rousseff] eram as mesmas pessoas que estavam batendo panela agora contra o Bolsonaro”.
FONTE: 247
quarta-feira, 17 de junho de 2020
MAIS UM PROGRAMA EJA EM AÇÃO
Ontem dia 16/06/2020, participei de mais um Programa do Projeto EJA EM AÇÃO, juntamente com as professoras Marta Geruza e Maristela Pereira, onde foi debatido "O NEOLIBERALISMO, MERITOCRACIA E EDUCAÇÃO: UMA QUESTÃO DE OPORTUNIDADES"
segunda-feira, 15 de junho de 2020
Ansiedade, abuso de álcool, suicídios: pandemia agrava crise global de saúde mental
Pesquisadores
analisam as causas, os riscos e o papel do Estado diante dos “efeitos
colaterais” da covid-19
Comércio de bebidas durante
a quarentena em Calcutá, na Índia: vendas de álcool dispararam no mundo todo -
Dibyangshu SARKAR / AFP
Sete meses após a descoberta da covid-19, diferentes países se
deparam com um problema que costuma ficar à margem dos debates sobre epidemias
e grandes crises econômicas: os impactos à saúde mental.
O assunto já era negligenciado
antes que o coronavírus se tornasse uma preocupação mundial. Um estudo publicado na
revista científica britânica The Lancet,
em 2018, mostrou que 13,5 milhões de vidas poderiam ser salvas
por ano com aprimoramentos nas políticas de saúde mental. Em quase todas as
regiões analisadas, os serviços prestados eram mais precários do que daqueles
voltados à saúde física.
“Temos pouca informação sobre os efeitos de pandemias anteriores
na saúde mental, justamente porque as pesquisas estavam concentradas nos temas
econômicos, sociais, antropológicos, e no tratamento da doença em si”, lembra o
médico e pesquisador peruano Jeff Huarcaya-Victoria. “Mas sabemos que os altos
níveis de contágio, com milhares de mortes, e as notícias frequentes de falta
de equipamentos e leitos nos hospitais, somados, podem provocar vários
danos, como ansiedade, stress e depressão”.
Embora a covid-19 seja um fenômeno recente, dezenas de pesquisas
pelo mundo já demonstram esses efeitos psíquicos – não só da doença, mas das
próprias medidas de contenção. “A quarentena tem que ser vista como um
tratamento. E, como qualquer tratamento, para atingir seu objetivo, causa
certos efeitos indesejados”, resume Huarcaya-Victoria.
Um levantamento realizado na China, na fase inicial da pandemia,
mostrou que 13,8% das pessoas passaram a manifestar sintomas depressivos leves,
12,2% apresentaram sintomas moderados e 4,3%, graves.
Nos Estados Unidos, um canal de
emergência oferecido pelo governo para pessoas com sofrimento emocional
registrou um aumento de 1.000% nas ocorrências em abril, segundo o jornal Washington Post,
em comparação com o mesmo mês do ano passado.
“Se fosse uma pandemia de ebola, HIV ou tuberculose, seria
diferente, porque já conheceríamos as formas de transmissão e tratamento.
Porém, estamos diante de um vírus novo, ainda desconhecido, por isso gera tanta
incerteza e insegurança”, explica o médico peruano.
Abuso
de álcool
O aumento global na venda de
bebidas alcoólicas durante a quarentena sintetiza essa preocupação. No Brasil,
dados publicados pela Associação Brasileira de
Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) em maio apontam
crescimento de 38%.
A Rússia é um caso emblemático. Campanhas de conscientização com
alto investimento público, iniciadas em 2003, levaram 13 anos até atingir 40%
de redução no consumo de bebidas alcoólicas. Em um mês de quarentena, porém, a
venda de bebidas já retornou ao patamar do final dos anos 1990 – com aumento de
47% no caso do uísque.
“Estudos [em diferentes países] apontam que 40% das pessoas
estão bebendo menos do que antes da covid-19”, lembra Matthew Parker, professor
da Escola de Farmácia e Ciências Biomédicas da Universidade de Portsmouth, no
Reino Unido. Outros 40%, em média, não percebem mudanças no seu consumo de
álcool durante o período de isolamento.
“Isso significa que os 20% que
relatam beber mais durante o lockdown são
responsáveis, sozinhos, pelo aumento global nas vendas de álcool, o que gera
preocupação do ponto de vista da saúde pública”, completa Parker.
O afastamento dos amigos e da família e as mudanças de rotina
geralmente são temporários, por conta da quarentena, mas a ciência não
descarta danos a médio e longo prazo.
“Suponhamos que, antes da
pandemia, uma pessoa tenha hábito de consumir álcool apenas quando sai com os
amigos no fim de semana. Durante a quarentena, ela começa a beber sozinha em
casa, durante a semana. Ao final do lockdown,
pode ter sido adquirido um novo hábito, beber sozinho, sem excluir o
hábito anterior de sair com os amigos e beber nos fins de semana”, exemplifica.
“Isso não quer dizer que apenas essa mudança de hábitos seja
responsável pelo vício, mas indivíduos em risco (por exemplo, aqueles com
predisposição genética e certos traços de personalidade) devem iniciar o ciclo
do vício em algum momento. É possível, portanto, que a quarentena abra caminho
para hábitos de consumo insalubres e arriscados”, finaliza o cientista.
A epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, pela
sigla em inglês) na Ásia em 2003, que também impôs a necessidade de
quarentenas, alavancou o consumo de álcool em vários países. Em Hong Kong, por
exemplo, um ano após os primeiros casos da doença, 15% das mulheres afirmava
beber mais do que antes da epidemia. Os números nunca retornaram ao patamar
anterior.
Dilemas
O consumo insalubre de álcool em casa durante a quarentena não é
apenas uma preocupação sanitária, mas pode estar associado ao aumento dos casos
de violência doméstica, por exemplo, ou ao uso insalubre de substâncias
ilícitas.
É esse conjunto de efeitos, de difícil mensuração, que fez com
que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendasse aos governos limitar ou
controlar a venda de bebidas durante a quarentena.
“Na África do Sul, as vendas de
álcool foram completamente proibidas e houve uma importante redução nas
internações relacionadas ao álcool e nos incidentes policiais”, lembra Matthew
Parker. “Essa medida também traz certos problemas, porque o consumo pode
disparar quando a venda for novamente liberada. No entanto, o impacto para a
saúde pública do país provavelmente será menor do que se muitos tivessem
desenvolvido hábitos perigosos de bebida durante o lockdown.”
Parker concorda que os governos
devem impor algum tipo de restrição, considerando que os sistemas públicos de
saúde e assistência social estão sobrecarregados por conta da pandemia.
“Pode haver, por exemplo, horários limitados de venda ou aumento
no preço mínimo do álcool (por exemplo, preço mínimo por grama de álcool) para
reduzir o que chamamos de consumo prejudicial. Ainda faltam pesquisas que
examinem o custo-benefício da limitação da venda de álcool versus a proibição
total”, pondera.
Com 1,3 bilhão de habitantes, a
Índia alternou períodos de proibição, restrições parciais e liberação do
comércio de álcool durante o lockdown. Cada
estado teve autonomia para estabelecer regras. A média de consumo nacional
caiu, mas o país também registrou casos extremos durante a quarentena, como
furtos a lojas de bebidas e até suicídios por abstinência.
Alerta máximo
“A Índia deve se preparar para
um grande número de suicídios”, afirmou Karthik Muralidharan, professor de
Economia na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, em artigo publicado no
jornal indiano Hindustan Times em
maio.
O autor faz um paralelo com os efeitos da crise de 1929, que
teria causado 10 mil “suicídios econômicos” nos Estados Unidos, no Canadá
e na Europa, segundo pesquisadores da Universidade de Oxford e da Escola de
Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Mais de 150 milhões de indianos têm distúrbios mentais
diagnosticados antes do início da pandemia. O índice de suicídios no país
também é superior à média mundial – por dia, são registrados mais de 600,
segundo a OMS.
“A Índia rural pode ser particularmente suscetível ao suicídio
devido ao afluxo de trabalhadores migrantes e também porque abriga a comunidade
de agricultores em risco”, aponta Muralidharan, que considera um fator de risco
o acesso facilitado a pesticidas no campo.
Os estudos mais consistentes que associam economia e suicídios
têm como objeto a chamada “Grande Recessão” que atingiu os EUA entre 2007 e
2010. Cada ponto percentual a
mais na taxa de desemprego teria gerado um aumento de 1,6% nas taxas
de suicídio.
O instituto de políticas para
saúde mental Meadows, no Texas, estima que 4 mil pessoas devem
cometer suicídio e outras 4,8 mil morrerão por overdose de drogas no
país em consequência do desemprego em massa provocado pela pandemia.
É função do Estado apontar
quais são os canais oficiais, orientar sobre as notícias falsas que circulam no
Facebook ou no Whatsapp
Para além dos impactos
econômicos ou do pânico causado pelo vírus, o isolamento social, por si só, é
um dos fatores associados ao suicídio. Fontes consultadas pelo Brasil de Fato apontam,
no entanto, que não há dados atualizados que comprovem um aumento global nos
últimos meses.
Também nesse caso, os impactos devem ser mais perceptíveis a
longo prazo. O número de suicídios nos Estados Unidos, por exemplo, dobrou
após a “Grande Recessão” e segue crescendo, 12 anos depois.
Papel
do Estado
Para o médico peruano Jeff Huarcaya-Victoria, a sobrecarga de
informações sobre a covid-19 produz efeitos tão nocivos quanto a completa
desinformação das primeiras pandemias.
“Se, mesmo no ambiente científico, as informações são
incompletas e contraditórias, imagina como isso chega aos jornais ou às redes
sociais”, compara. “A completa falta de informação gera ansiedade e medo. Mas,
agora, estamos ‘hiperinformados’, e esses dois extremos afetam a saúde mental.
É preciso buscar um equilíbrio, buscando informação em meios oficiais ou canais
que deem informação de qualidade.”
“É função do Estado apontar
quais são os canais oficiais, orientar sobre as notícias falsas que circulam no
Facebook ou no Whatsapp”, completa o médico peruano. “Os governos precisam
fazer grandes campanhas de difusão de informações precisas, confiáveis, como fez a China.
Lá, o governo investiu pesado para que todas as pessoas estivessem devidamente
informadas sobre os sintomas, os tratamentos, e sobre o risco da
automedicação”.
Huarcaya-Victoria observa no Peru dois fenômenos que evidenciam
a necessidade de intervenção estatal: a alta adesão a métodos de prevenção sem
comprovação científica e as longas filas para compra de bebidas durante a
quarentena. Além de regular as informações e o comércio de substâncias, ele sugere
que os governos estejam atentos aos grupos de maior risco.
“Nossos estudos demonstram, por exemplo, que um dos principais
fatores de risco é ser mulher. Elas têm manifestado maiores níveis de
depressão, ansiedade e estresse, por diferentes motivos. A proporção é de três
para um, em relação aos homens”, revela. “Então, as estratégias de saúde mental
devem priorizar a atenção às mulheres. Lembrando que, na América Latina, os
casos de violência doméstica também cresceram na quarentena.”
Outros grupos de risco, segundo o médico peruano, são
profissionais de saúde e pacientes com outras doenças graves, que veem ameaçada
a continuidade de seus tratamentos e sabem que têm maiores chances de morrer se
contraírem o coronavírus. O Estado, segundo os pesquisadores, deveria propor
alternativas para atendê-los sem obrigá-los a sair de casa em meio à
pandemia.
“Obviamente, se você não possui
um smartphone ou
computador, ou tem problemas para usar o software, a
telemedicina não faz sentido. Pacientes com paranoia grave, cuja doença
psiquiátrica os faz acreditar que coisas como o governo os espia pelo
telefone, geralmente não confiam no programa de telemedicina, portanto,
também não é uma boa alternativa para eles. Mas, para a grande maioria dos
pacientes, é uma ótima opção”, ressalta Adriane Dela Cruz, professora do
Departamento de Psiquiatria da Universidade do Texas.
“Isso é especialmente verdadeiro para pacientes que cuidam de
crianças ou familiares mais velhos que não podem sair em casa sozinhos para ir
ao médico, pacientes que moram fora das grandes cidades ou que se sentem
constrangidos por vir ao médico”, completa a especialista. “Quando usamos
a telemedicina, não usamos máscaras. Isso também é algo positivo, que
nos leva a pensar sobre a diferença entre ver todo o rosto e
expressões do paciente no computador, e vice-versa, em comparação com
estar na mesma sala do paciente, mas incapaz de ver metade do rosto deles.”
O desafio da inovação é
amplificado em países subdesenvolvidos, com sistemas de saúde e assistência
social frágeis, ou que desmantelaram e reduziram investimentos no setor nos
últimos anos, como o Brasil. A Emenda Constitucional 95, do “Teto de Gastos”,
por exemplo, sancionada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), fez o Sistema Único de
Saúde (SUS) perder R$ 13,5 bilhões no ano passado.
FONTE: BRASIL DE FATO (Edição:Camila Maciel)
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