"Por que os jovens costumam tirar fotos em espelhos ou em banheiros
ou, ainda, nos dois e postar no Facebook?" Essa pergunta veio
de um dos leitores do blog Café com Sociologia. Existem diversas possibilidades
de respostas, mas buscarei - me apropriando da Sociologia - dar uma “resposta”
pelo menos orientadora.
Vivemos em uma sociedade onde a vida torna-se cada vez mais privada. O
individualismo marcante de nossa sociedade tem levado os jovens a se fecharem
em seu mundo, embora o ser humano tenha a tendência de interagir com outros
indivíduos. Ainternet acaba sendo uma espécie de “válvula de
escape” para essa individualidade que o perturba. Perturba porque o que somos,
só somos a partir do outro, o qual é o nosso parâmetro. Buscamos ser muita coisa
só porque do outro (não teria porque usar roupas novas e caras sem que as
pessoas soubessem; ser bonito sem ser visto...). Vivemos o momento do
"apareço, logo existo!" Mesmo em um mundo tão tendencioso à
privacidade, essa parece ser a realidade.
Mas se o jovem só será algo a partir do outro, como lidar com o
individualismo?
A saída tem sido a interação social por meio das redes virtuais de
relacionamento. Por meio de tais redes o jovem consegue manter sua
individualidade de forma pública. Como assim? Simples: se mantendo em meu mundo
real individualizado e, ao mesmo tempo, participando de um outro mundo mais
social, porém mais seguro que aquele. Mais seguro porque sua publicidade, de
certa forma, é controlável. Pode escolher quem e o que quer compartilhar, ser
visto. Isso nas relações sociais cara-a-cara não é tal fácil. Pode ter centenas
de amigos e deixar de ter tais amigos em poucos cliques. Mas qual a relação
disso com fotos em espelhos e banheiros?
O individualismo fez com que o jovem se sinta mais seguro quando está
só. Estando só, no banheiro ou no quarto, cria-se um cenário propício para uma
auto fotografia sem constrangimentos; sem ninguém para avaliá-lo. Assim, em seu
mundinho individual, se sente seguro para fazer tantas poses quanto for necessária
para uma foto classificável como boa (que ao meu ver são sempre horríveis,
principalmente aquelas acompanhadas de biquinhos... rsrsrs). Não tendo nenhum
parâmetro não precisará se preocupar com “micos”. Feitas as poses terá a
possibilidade de publicizar no facebook a foto escolhida, tida
como a melhor. Essa publicização ocorre de modo controlado... a qualquer
sinal... qualquer comentário indesejado... a foto poderá ser retirada do
compartilhamento. Essa postura aponta que a coletividade só é realizável devido
a possibilidade de, ao menor sinal de perigo, retornar a “individualidade
segura”. Assim, aparece para existir, mas se necessário desaparece em
instantes!
Por Cristiano das Neves Bodart
Nenhum comentário:
Postar um comentário