Durkheim (1858-1917), importante teórico na história do pensamento
sociológico, mantém sua importância e consegue influenciar, mesmo hoje, vários intelectuais.
O primeiro sociólogo a ocupar uma cátedra de sociologia em uma universidade, um
dos pais fundadores da sociologia moderna e militante durante o processo de
institucionalização desta em âmbito acadêmico, tal autor é indiscutivelmente
importante a quem deseja conhecer e se aprofundar no pensamento social
científico. Apresentar algumas premissas teóricas e metodológicas deste grande
intelectual expondo aspectos de suas três principais obras, consciente da
impossibilidade de exaustão do assunto, constitui-se no objetivo deste texto.
O pensamento durkheimiano, como aponta Aron (1999), pode ser
compreendido a partir do desenvolvimento de três principais etapas. Num
primeiro momento, Durkheim define o fenômeno estudado – um fato social tratado
como coisa. Na segunda etapa ele refuta as interpretações anteriormente dadas
como causas de tal fenômeno. E, por último, é-nos apresentada uma explicação
propriamente sociológica.
Émile Durkheim se utiliza do desenvolvimento metodológico anteriormente
apresentado em suas três maiores obras: Da Divisão do Trabalho Social (1894); O
Suicídio (1897) e As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912). É importante
ressaltar que, em ambas as obras, as explicações refutadas o foram por se
tratarem, também ambas, de explicações individualistas e psicologizantes.
Vamos, então, a seguir, abordar cada obra separadamente. Em Da Divisão do
Trabalho Social (1894), Durkheim critica interpretações deste fenômeno –
divisão do trabalho – que possuem sentido progressista em que a diferenciação
social, provocada pela divisão social do trabalho, é resultante de mecanismos
individuais e psicológicos, como, por exemplo, o desejo de aumento da
produtividade, busca pelo prazer e felicidade e desejo de superação do enfado.
Criticadas tais interpretações, Durkheim nos dá sua explicação
propriamente sociológica: em primeiro lugar há a superioridade da sociedade
sobre os fenômenos individuais. Em segundo, e em suma, são o volume e as
densidades material e moral que resultam na diferenciação social, e não o que
foi proposto pelos teóricos anteriores. São tais fatores, inclusive, que
reverberam também na solidariedade orgânica, característica das sociedades
industriais na qual existe a dada divisão do
trabalho.
Na obra O Suicídio (1897) são refutadas as interpretações nas quais o
suicídio é causado por fatores individuais, psicológicos, loucura e alcoolismo.
Como explicação sociológica e cientificamente válida, Durkheim apresenta a
corrente suicidógena, um fenômeno social que, como o próprio nome diz, por
tratar-se de uma corrente [como as de ar, por exemplo,] passa e atinge aos
indivíduos que dispõe de tendência social ao suicídio manifestada por
circunstâncias individuais.
Em sua obra volta à religião – As Formas Elementares da Vida Religiosa
(1913) –, e que marca uma mudança de interesses na produção intelectual de
Durkheim, são excluídas as proposições que tratam do fenômeno religioso como
animismo ou naturismo; visões estas essencialmente individualizantes. E,
estudando as sociedades tribais australianas, nas quais, segundo Durkheim, há a
forma religiosa elementar, o totemismo, é definido o fenômeno religioso como
exaltação coletiva provocada pela reunião de indivíduos em um mesmo lugar de
forma a transcendê-los. É, na verdade, a própria sociedade que os indivíduos
adoram sem que o saibam. A religião consiste na divisão do mundo em sagrado e
profano e é ela, como conclui Durkheim, o elemento fundante da sociedade.
A concepção durkheimiana de sociedade vê esta enquanto um todo,
ordenado, moralizado e coeso, composto por indivíduos, mas que ao mesmo tempo
os transcende impondo-lhes condutas, regras e valores. Em toda a sua obra
Durkheim tenta comprovar essa visão na qual a sociedade é isenta de conflitos;
e, se estes existem, tratam-se apenas de patologias. Não podemos negar que tal
ponto de vista custou caro a Émile Durkheim, sendo alvo de inúmeras críticas.
Todavia, sua importância para a sociologia não diminui nem tão pouco diminuiu.
Referências
ARON, Raymond. Émile Durkheim. In: ______. As etapas do pensamento
sociológico. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 288-365.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema
totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
______. As regras do método sociológico. 3ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
______. Da divisão do trabalho social. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
______. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes,
2000.