"[...] A Sociologia divide-se em várias disciplinas, que estudam a
ordem existente nas relações dos fenômenos sociais de diversos pontos de vista
irredutíveis, mas complementares e convergentes. Contudo, nada se disse [até
aqui] sobre as chamadas "sociologias específicas", como a Sociologia
Econômica, a Sociologia Moral, a Sociologia Jurídica, a Sociologia do
Conhecimento [a Sociologia da Educação] etc. A rigor, essa designação é
imprópria. Como acontece em qualquer ciência, os métodos sociológicos podem ser
aplicados à investigação e à explicação de qualquer fenômeno social particular
sem que, por isso, se deva admitir a existência de uma disciplina especial, com
objeto e problemas próprios! Essa tendência teve razão de ser no passado,
enquanto pairavam dúvidas sobre as questões essenciais, relativas ao objeto da
Sociologia, à natureza da explicação sociológica e às técnicas de investigação,
recomendáveis no estudo sociológico dos fenômenos sociais. Ela simplificava o
trabalho dos especialistas, confinando o âmbito da discussão de questões
metodológicas e do significado de suas contribuições. Como nos sugere o estudo
de Mannheim, sobre a Sociologia da Consciência, essa expressão conserva,
atualmente, um sentido figurado, pois a investigação de um fenômeno particular
com frequência envolve o recurso simultâneo às abordagens sociológicas
fundamentais. Sob outros aspectos, o uso mais ou menos livre de tais expressões
facilita a identificação do teor das contribuições, simplificando, assim, as
relações do autor com o público. Isto parece suficiente para justificar o
emprego delas, já que carecem de sentido lógico os intentos de subdividir,
indefinidamente, os campos da Sociologia".
Fonte:(Florestan
Fernandes. Sociologia da Educação como "Sociologia Especial". In:
Luiz Pereira e Marialice Foracchi. Educação e Sociedade: Leituras de Sociologia
da Educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977, p.6