quinta-feira, 20 de março de 2008

Escolher a vida

Talvez uma das coisas que mais se presta a enganos e equivocadas interpretações hoje em dia é o entendimento da liberdade. Todo o processo da modernidade, com o crescimento da autonomia do sujeito e o império da razão, parece haver colaborado neste sentido. Assim é que se entende liberdade como fazer o que se tem vontade, o que dá na telha, o que se está a fim de fazer, o que me deixa bem, o que me faz “feliz”.
O resto, os outros, importam pouco. O importante é que eu possa consumir aquilo que tenho vontade, namorar quem e quantos tenho vontade a todo minuto que tenho vontade, fazer e desfazer relações, compromissos e pactos de acordo e ao ritmo do meu direto interesse neles. A sociedade de consumo, a ideologia neoliberal, a cultura de sensações seduzidas onde nos encontramos incita a isso.
O saldo extraído dessa atitude e deste tipo de comportamento é, inegavelmente, negativo. Na verdade, pretendendo ser livres, estamos cada vez mais escravizados: as nossas paixões, nossos desejos e gostos imediatos, nossas compulsões várias, sexuais, consumistas. E vamos gerando para nós mesmos uma sucessão de múltiplas e sufocantes frustrações que nos atam e agrilhoam e nos levam longe, muito longe, no extremo oposto de onde está a tão decantada liberdade, que tanto nos vangloriamos possuir.
A Campanha da Fraternidade, lançada pela CNBB nesta quarta feira de cinzas, início da Quaresma, alerta para esse risco que a humanidade hoje corre, lembrando que a vida é um dom, sim, mas é também uma escolha. E o único caminho que pode nos levar à liberdade pela qual tanto suspiramos e à qual tanto aspiramos é escolher, a cada momento e em cada situação, aquilo que leva à vida.
Para a Revelação judaico-cristã, a vida é o outro nome de Deus. Criador de tudo que existe, fonte inesgotável de toda vida que existe, a natural, a humana, Deus é igualmente Senhor da história onde essa vida é chamada a desenvolver-se e chegar à sua plenitude. É seu hálito soprado nas narinas de Adão, feito do barro, que transformará esse que é semelhante aos outros seres vivos pela mortalidade em alguém capaz de auto transcender-se e fazer escolhas que o aproximam do Criador, sem deixar de ser criatura.
Assim é que a escolha mortal do homem e da mulher pela soberba e pela negação de seu estatuto de criatura vai levá-los para longe do paraíso.
Assim é que as escolhas que o povo de Israel vai fazendo ao longo de seu caminho ora o aproximam da vida e da liberdade, pela prática da justiça e o culto ao único e verdadeiro Deus que lhe propõe uma aliança; ora o afastam da vida, pela injustiça praticada contra o pobre, pela idolatria que os faz dobrar os joelhos diante dos ídolos vazios e mortos que só podem levá-los à frustração e à morte.
Oferecida como dom, a vida deve ao mesmo tempo ser escolhida, a cada momento e em todo tempo e lugar. Escolhida na contramão da morte, que a cada dia decide pela falta de futuro de milhões de seres humanos condenados à morte prematura e a uma existência sem horizontes.
Escolhida na contracorrente de uma sociedade que só valoriza o dinheiro e o sucesso, e marginaliza como perdedores todos aqueles e aquelas que não conseguem entrar em sua avassaladora avalanche. Escolhida na resistência firme e serena ao poder, ao prazer e ao ter que se apresentam como únicos ideais que podem trazer a felicidade e a realização.
A Igreja do Brasil relembra a todos nós no início deste período quaresmal que escolher a vida é lutar para que outro tenha vida. Para que a natureza não seja destruída e o mundo continue sendo habitável para essa geração e a futura. Para que a violência e as drogas não dizimem a juventude em louca corrida em direção a viagens passageiras. Para que a vida não seja interrompida antes sequer de começar, pela prática do aborto, nem interrompida antes de terminar, pela eutanásia irresponsável.
Escolher a vida. Eis o segredo da liberdade. Eis o único caminho para que a existência humana seja digna deste nome.
Prof. Roberto Sérgio

*O que é Sociologia?

A Sociologia teoriza, diagnostica e explica a interação do homem com as instituições, as estruturas da sociedade, criando conceitos sobre as relações de poder nelas existentes. São essas as formulações que tornam esta ciência um instrumento poderoso: para alguns uma arma a serviço dos interesses dominantes; para outros, a expressão teórica dos movimentos revolucionários. A Sociologia chegou a ser acusada de ser um disfarce para o marxismo e teoria revolucionária disfarçada de ciência. Acabou banida de universidades da América do Sul nos países sob regime ditatorial.
Essa visão não está somente atrelada ao potencial reflexivo e questionador dos sistemas disseminados pela Sociologia, embora sejam essas características que a colocaram de volta na grade curricular de escolas do ensino médio. Tais ocorrências proibitivas remontam sua origem, pois suas correntes surgiram como tentativa de compreensão de situações sociais inusitadas, nascidas com o capitalismo, tendo seus intelectuais profundamente envolvidos nesse contexto. O momento foi o ápice das questões levantadas por um proletariado infeliz, assim concebido ao longo da Revolução Industrial. A Sociologia surgiu, então, de fato, atrelada ao desenvolvimento do socialismo. Em um segundo momento, porém, envolveu-se, paradoxalmente, na contenção da expansão socialista. Acabou por ajudar na neutralização dos movimentos de libertação que ameaçavam a hegemonia das potências econômicas e políticas da época.
Prof. Roberto Sérgio

Alerta à cultura do desperdício

*O brasileiro tem uma cultura da fartura e adota o que denomina pedagogia do desperdício, contribuindo para índices alarmantes mostrados no livro Brasil - o país dos desperdícios.
Enquanto em países desenvolvidos os desperdícios com alimentos ficam entre 20% e 30% do Produto Interno Bruto (PIB), no Brasil chega-se a 150% do PIB; o desperdício de água tratada chega à casa dos 40%, enquanto nos países desenvolvidos fica abaixo dos 20%; cerca de um terço da energia distribuída no Brasil é mal utilizada e, no setor de construção civil, a perda alcança cerca de 25%.
Estes índices, os mais alarmantes no Brasil, comprovam a cultura do desperdício que grassa no País e estão no livro Brasil - o país dos desperdícios, de José Abrantes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo ele, o Brasil apresenta perdas em todos os níveis de produção. Num País em que 50 milhões de pessoas sofrem com a fome, o desperdício de comida, por exemplo, chega a 50% da produção nacional.
Boa parte das sobras geradas por restaurantes e lanchonetes poderia ser doada, mas a legislação é desmotivadora: a pena prevista para quem entregar matéria-prima ou mercadoria em condições impróprias para o consumo é de dois a cinco anos de detenção.
Sobre o desperdício de água tratada, dados de 2003 da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e do governo federal revelam que a perda de 40% do produto tratado e distribuído no Brasil representa prejuízo de um bilhão de dólares. Em algumas cidades, o desperdício doméstico de água pode chegar a 70%, sem falar na má utilização da indústria agrícola, pois as técnicas de irrigação ainda são, em sua maioria, obsoletas.
A perda de energia elétrica vem em terceiro lugar na escala dos recursos desperdiçados. Cerca de um terço da energia distribuída no Brasil é mal utilizada, segundo o Laboratório de Planejamento de Sistemas de Energia da Universidade Federal de Santa Catarina. Dados divulgados em 2005 por Eletrobrás, Procel e Operador Nacional do Sistema Elétrico indicavam que, em algumas empresas, o desperdício chega a 50%.
O professor ressalta ainda o problema no setor de construção civil, cuja perda alcança cerca de 25%. O preço final dos imóveis pode aumentar até 10%, em conseqüência da falta de planejamento e de interação entre o projeto de arquitetura e sua execução, uso de material de baixa qualidade e falta de pessoal qualificado.
A conscientização sobre a importância de se evitar perdas ajudaria a melhorar a vida de milhões de pessoas. O livro Brasil - o país dos desperdícios pode ser um bom começo.

Ditadura da TV

Ditadura da TV

Impõe-se a democratização dos meios de comunicação e especialmente da televisão. Não pode haver democracia real, se um grupo limitadíssimo de pessoas "faz a cabeça" daquela parte da população que não lê jornais, nem revistas e livros, mas que se guia pela "telinha" colorida.

É preciso que haja uma maior regionalização dos programas. Mesmo os fatos nacionais deveriam ser interpretados e discutidos à luz das realidades locais, por jornalistas locais, por pessoas da comunidade. Nas diversas redes, o tempo destinado às programações locais não condiz com o respeito que merecem o senso crítico e a criatividade das comunidades telespectadoras. Com programação mais regionalizada, seria possível um controle mais eficaz da sociedade sobre os meios de comunicação.

A regionalização contribuirá para que se preservem as riquíssimas culturas regionais brasileiras.

É preciso que haja conselhos éticos dentro de cada emissora, com participação de jornalistas e representantes da comunidade. Deve ser maior o poder dos comunicadores dentro de cada veículo. A frase de Assis Chateaubriand, captada por Fernando Moraes, de que para ter opinião própria era preciso que o jornalista fosse dono do meio de comunicação, não pode prosperar, se temos uma concepção não-autoritária de imprensa.

Televisão é serviço público, é instrumento de educação popular, como também o rádio.

As imagens da TV e as ondas do rádio não pedem licença para entrar em nossas casas. São invasoras. Podem falar aos filhos, sem o consentimento dos pais, inclusive quando os pais não estão em casa. A sociedade tem o direito de controlar essa máquina, para não ser por ela controlada, tragada e escravizada.

A violência na TV tornou banal a violência.

A supressão de qualquer referência ética caracteriza alguns dos programas de maior audiência.

A sociedade foi consultada se concorda com todo esse culto da violência, com a supressão da ética no universo televisivo?

A outorga e a renovação das concessões deveriam ser submetidas a controle da sociedade. Canal que sistematicamente desinforma, deseduca e embrutece deve ser cassado por órgão democrático da sociedade civil.

Seria extremamente útil algum controle dos jornalistas das afiliadas na condução das emissoras matrizes.

Numa outra vertente, muito bom seria que a sociedade civil organizada, através de suas instituições, premiasse programas positivos de televisão, incentivasse uma linha educativa nas transmissões, destacasse com elogio a publicidade com mensagem humanamente construtiva, enobrecesse com a palma do reconhecimento o telejornalismo honesto e investigativo.

Como sociedade civil, não podemos nem devemos concordar em ser mero apêndice dos que controlam, pela televisão, a opinião pública brasileira.

Na afirmação da cidadania, temos de exigir que se cumpra a Constituição Federal de 1988, cujo artigo 221 estabelece que a programação das emissoras de rádio e televisão dêem preferência a finalidades educativas, promovam a cultura nacional e regional, estimulem a produção independente, respeitem os valores éticos da pessoa e da família.

Depois que lemos o que está escrito na Constituição e ligamos nossos aparelhos de TV, a impressão que temos é a de que estamos lendo a Constituição de um outro país.
Prof. Roberto Sérgio.